Fui feita ,da cabeça aos pés, para entender sem preconceito.
(parodiando Friedrich Holländer).
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Vindo de férias na Bahia com um amigo que, na verdade, já era o primeiro companheiro, aproveitou o tempo da curta escala da Ponte Aérea no aeroporto do Galeão, para me contar acerca de sua verdadeira identidade sexual (eu já tinha quase certeza) e explicar que o namorado, àquela hora, deveria estar fazendo o mesmo junto à família, em São Paulo.
Aqui em casa, nossos filhos foram orientados no sentido de privilegiar a verdade, em qualquer circunstância.
Meu marido foi informado na mesma noite, a caminho de comemoração de aniversário de um cliente importante.
Teve (e sempre tem) um comportamento impecável.
Nada disse na hora ,mas mandou reservar, no dia seguinte, quarto num belo hotel em Búzios para o final de semana.
E alugou um carro ,para que os meninos lá pudessem respirar aliviados e com conforto.
Repito: no mesmo dia da saída de armário, éramos convidados para uma reunião social.
A festa ia de vento em popa quando a anfitriã mandou chamar o chef, gay identificável à primeira vista, para receber cumprimentos pelo excelente cardápio.
Uma outra convidada, socialite conhecida e mãe de lésbica notória -mas sempre encolhida, me sussurrou “ ai, que desgosto deve ter a mãe deste viado”.
Poucas horas após a cena no Galeão, confirmei o que já tinha sacado: só existe uma única forma de aceitar um filho homossexual: por inteiro, sem titubear.
Informo, just in case, que a reação das pessoas é tipo sistema binário. Ou aceitam e te admiram ou rejeitam e te desprezam.
Meus olhos não enxergam nenhuma desgraça pelo simples fato do filho, num certo momento da vida, ter tido a coragem de sair do armário.
E meus ouvidos não se surpreendem com as coisas que ouvem.
E boca e cordas vocais são fechadas para não entrar mosca.
Mas, se necessário,acopladas a um simbólico trombone, gritam, berram e fazem escândalo quando se deparam com o que identificam como homofobia.
Acreditem, leitores,já fui censurada por pensar assim, por ter sido feita para compreender sem preconceito.
Grande autoridade paulista na área psi de coming out (a popular saída do armário) , achou que "meu comportamento futurista seria prejudicial a outros pais e mães mais sensíveis" (sic).
Claro,iria perder clientela .....
A redação do site para o qual colaborei quinzenalmente durante anos, o Mix Brasil, logo que começou a publicar minhas matérias, recebia telefonemas intermitentes de uma senhora igualmente mãe de gay - conforme se identificava - que pedia minha demissão por apologia da homossexualidade!
Já fui cumprimentada na rua por uma vizinha de bairro que leu meu depoimento em revista semanal e, dias depois, antes do momento atual ,quando se pode fazer boletim de ocorrência, fui agredida verbalmente em reunião de condomínio por vizinha homofóbica.
Meu filho é um ser humano da melhor qualidade, poderia ter optado pela mentira ou – pior -pela omissão.Alguns meninos e meninas até fazem casamento de conveniência.
Ele preferiu confiar nos pais e viver em paz.
Um filho que confia e se mostra por inteiro ,merece a contrapartida da solidariedade, do respeito e da admiração.
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