"Mães de trans e gays declaram amor e preocupação com segurança dos filhos; veja vídeo
G1 conversou com famílias que superaram preconceitos, mas ainda temem a a intolerância. Dia das Mães é realizado três dias antes de Dia de Combate à Homofobia.
Este domingo de Dia das Mães (14) antecede o Dia Internacional de
Combate à Homofobia, celebrado em 17 de maio. Para a população LGBT no
Brasil, o panorama de violência é grave. Só no último ano, 1.876 casos
de crimes contra lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgênero foram
registrados no país. Neste dia dedicado a elas, o G1
conversou com mães de LGBTs no Rio de Janeiro e trouxe histórias de
respeito, reconhecimento e muito amor de mulheres que abraçam e lutam
pelos filhos e seus direitos, acima de tudo.
Medo da violência
A aposentada Maria das Graças Aguiar, mãe da advogada Maria Eduarda
Aguiar, de 36 anos, mulher transgênero, conta que a aceitação foi
complicada, mas que o amor pela filha superou quase tudo, menos a
preocupação com a sua segurança.
“Ela já sabe. Ela sai para qualquer lugar, seja a hora que ela chegar,
ela manda mensagem. Eu não quero saber da vida dela. Eu só quero estar
tranquila. Quando ela avisa que está tudo bem, aí eu posso dormir
tranquila”, revelou Maria das Graças.
Na cidade do Rio, os números da violência contra LGBT aumentaram. Em
2015, o Disque 100 recebeu 110 denúncias a respeito de agressões. Esse
valor aumentou para 121 registros em 2016. O número possivelmente é
maior, já que esses são apenas os casos registrados. Maria Eduarda diz
não ter sofrido violência física, mas que, por ser pessoa trans, é uma
preocupação que persiste.
“Só há um caso que me preocupou muito. Eu estava em vagão de trem, indo
para Bangu, e uma pessoa ficou me seguindo, falando coisas de igreja,
dizendo que matava. Eu atravessei uns três ou quatro vagões e, na volta,
eu consegui despistá-lo”, lembrou a advogada.
Temor pela militância
A educadora Sheila Gutierrez Damazo, mãe da estudante Mikhaila Copello,
25 anos, compartilha da mesma preocupação de Maria das Dores. Ela
aceitou com tranquilidade quando a filha, aos 14 anos, se assumiu
homossexual, mas segue, dia após dia, preocupada com a integridade
física da cria.
“Esta foi minha preocupação: discriminação. Mikhaila adora levantar bandeiras e isso pode atrair agressões. Ela até já sofreu agressões na rua. E isso é uma coisa que eu tenho uma certa preocupação”, conta a educadora.
Atualmente, mãe e filha têm uma relação de proximidade. Com
naturalidade, Mikhaila recebe a namorada e amigos LGBTs em casa. Algumas
das pessoas do ciclo de amigos da estudante não têm a mesma sorte de
poder contar com o apoio da família.
“Já acolhemos gente que apanhou da mãe e do pai, os pais bateram quando
a menina confessou. Ele chegou aqui toda espancada”, lembra Sheila
Damazo. A mãe da estudante também sempre apoiou a filha, inclusive
pedindo respeito para a família “Eu falei pra todo mundo que se alguém
discriminasse a minha filha, eu não ia mais falar”, diz.
Aceitação
A aceitação dos pais nem sempre acontece de primeira. Apesar de sempre
ter desconfiado da sexualidade do filho Raphael Narciso, de 26 anos, a
reação da aposentada Narcy Narciso, de 53 anos, foi muito ruim.
“Eu quis morrer, sinceramente. Não entendia, eu pensava, cheguei a falar isso: 'Como eu vou ter netos?'", lembra.
O caminho para a relação de cumplicidade que os dois têm hoje envolveu muito conhecimento, leitura para Narcy e muito diálogo.
“A gente foi trocando, eu fui conversando com ela, explicando, ela foi
entendendo”, conta o artista visual, que hoje frequenta a casa da mãe
com o namorado, com quem está há três anos e já faz parte da família.
“Eu pensei no caráter do meu filho, que é o mais importante. E ele é um homem maravilhoso, honesto. É isso o que importa”, conta Narcy, coruja.
A preocupação de Narcy, assim como a das outras mães, é a segurança do filho.
"Me preocupo muito com a intolerância. Eu sempre falo pra ele: 'Cuida de você pra mim'", diz.
Para Mikhaila, também houve uma pequena divergência – que durou apenas um dia.
“No primeiro dia foi pesado. Os outros dias, depois, foram como se nada tivesse acontecido. Eu sempre que namorava uma menina eu trazia para casa e nunca houve problemas. Inclusive, muitas delas, quando o relacionamento acabava, elas procuravam a ajuda da minha mãe”, explica.
Para o dia de hoje, todas as mães ouvidas têm um pedido de presente
comum: uma sociedade mais tolerante, respeitosa e em que não precisem
temer pelo bem-estar dos filhos.
*Sob supervisão de José Raphael Berrêdo"
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