domingo, 20 de agosto de 2023

Alice B Toklas

 

 Companheira de Gertrude Stein

Alice Babette Toklas (30 de abril 1877 – 7 de março1967)  foi figura importante no movimento  avant garde de Paris nas primeiras décadas do século vinte e companheira de toda a vida de  Gertrude Stein.
Judia de origem polonesa, Alice Toklas era música ( piano)  

Conheceu Gertrude Stein em Paris, em 1907 e, em seu salão da Rue de Fleurus 27,recebiam a intelligensia da época :Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Thornton Wilder, Paul Bowles e Sherwood Anderson,   Picasso, Matisse e Braque, entre outros tantos, 
Vivendo na sombra da companheira,foi  sua cozinheira, secretária, amante, musa, editora e crítica. 

Em 1933,  Gertrude Stein publicou suas memórias em 1933 com o título-homenagem Autobiografia de Alice B . Toklas.
 Durante os anos da ocupação nazista, as duas  se exilaram em  Bugey (próxima à fronteira com a Suíça), onde permaneceram até a morte de Gertrude, em 1946.
  
Em 1954, Alice Toklas publicou uma obra que  combinava memórias e receitas : o "Livro de Receitas de Alice B. Toklas ", onde disponibilizou o resultado de 25 anos de receitas de comidas que alimentaram as celebridades: de simples aperitivos aos pratos mais sofisticados,
Editora Cia.das Letras (1996)

inclusive receitas especiais para
 Cecil Beaton, Pierre Balmain, Josephine Baker, Dora Maar e inúmeras variedades de gazpacho, a sopa fria espanhola. 

Este é um   campeão de vendas em todo mundo até hoje. 

Um segundo livro de receitas publicado em 1958: "Aromas e Sabores do passado e presente". 
Assinou vários artigos no The New Republic e The New Yorker.Em 1963 publicou-agora ela mesma- sua autobiografia. 

Convertida aao catolicismo durante os últimos anos de sua vida,foi enterrada no Cemitério Père-Lachaise, em Paris num túmulo perto do de Gertrude. 
  Desde 2004, um prêmio com seu nome é concedido   anualmente às melhores obras de ficção com temática lésbica 
 ******
Trecho da crítica sobre o livro "Duas Vidas por Noemi Jaffe para a Folha de São Paulo em 26/4/2008, por ocasião do lançamento editorial:


Em "Duas Vidas", Janet Malcolm faz uma pesquisa de fôlego sobre alguns bastidores nada abonadores da relação entre Gertrude Stein e Alice B. Toklas e menos ainda das relações que Gertrude manteve, durante a Segunda Guerra Mundial, para conseguir permanecer no interior da França em relativa tranqüilidade. 

Como duas lésbicas judias mantiveram uma bela casa no interior, durante vários anos, sem serem incomodadas pelos alemães ou pelos franceses?
O foco principal da pesquisa é a amizade que Gertrude estabeleceu com um grande colaboracionista francês, Bernard Fay, escritor, professor e também homossexual, que, segundo consta, teria protegido o casal Gertrude e Alice durante a guerra. 


Além disso, o livro também conta sobre o apoio de Gertrude a Franco, durante a Guerra Civil Espanhola, contrariando as tendências de praticamente todos os seus amigos durante a época, inclusive o mais conhecido deles, Picasso.

Concessão ao público
Seu livro mais vendido, "A Autobiografia de Alice B. Toklas", escrito por Gertrude como se a narradora fosse Alice, falando de sua amante genial, foi, segundo a pesquisadora, uma concessão da autora ao grande público, uma vez que sua linguagem feita de colagens e justaposições era incompreensível demais.
 

Do apoio a Franco e da amizade com um aliado dos nazistas, Janet Malcolm vai à miséria em que morreu Alice, já nos anos 60, privada da herança das centenas de quadros de Gertrude, que, no final, ficaram mesmo dentro do círculo nada revolucionário de sua família e foram confiscados de forma patética pela segunda mulher de seu sobrinho.

Escolhas políticas
Mas, apesar da acuidade da pesquisa, resta outra pergunta: se é difícil decidir sobre a importância das escolhas políticas dos grandes autores, qual é a utilidade de se realizar um estudo pormenorizado sobre essas escolhas? 

Para revelar ao grande público a "verdade" que se esconde por trás das obras?
Para obter sucesso em nome de sua popularidade?
Gertrude Stein já era polêmica o suficiente como autora, na sua linguagem autônoma e circular, para que seja necessário conhecer os bastidores de suas escolhas políticas, a não ser como curiosidade. 


Sua vida pessoal, carregada de detalhes saborosos (amizade com Picasso e Hemingway, homossexualismo, judaísmo mal assumido) não pode ocupar o lugar da tarefa muito mais desafiadora de se compreender sua obra, que fica sempre muito além dessas curiosidades.
 

Afinal, para quem lê "Uma Temporada no Inferno", de Rimbaud, que diferença faz saber que ele foi traficante de armas na África? E, no futuro, como se poderá esquecer a frase "uma rosa é uma rosa é uma rosa", em que Gertrude desbanalizou essa flor pela primeira vez em cem anos? "


DUAS VIDAS - GERTRUDE E ALICE
Autora: Janet Malcolm
Tradução: Patricia de Queiroz Carvalho Zimbres
Editora: Paz e Terra
Quanto: R$ 47 (216 págs.)
 

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