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Documentos datados de 3.500 anos, ainda existentes, nos relatam uma tradição chinesa de homossexualidade masculina.
Descrições igualmente antigas se referem ao que os historiadores poderiam chamar de lesbianismo e "inconformismo genético".
Esta diversidade da forma de amar, integrada nos valores chineses do pré-budismo, influenciou o pensamento chinês até o movimento de quatro de maio de 1919, que trouxe a visão burguesa ocidental do "problema".
A China - cotada para ter, em breve, o maior PIB do mundo - adota a pena de morte e considerou os homossexuais - tongzhi - doentes mentais até 2004 e os reprime.
Usa a psiquiatria como arma política, reeduca pelo trabalho forçado, persegue as minorias étnicas e religiosas e controla a Internet desde setembro de 2005.
Nesta data, a Xinhua, agência de notícias oficial, divulgou novo pacote de restrições.
A nota informava que "O Estado proíbe a divulgação de quaisquer notícias cujo conteúdo seja contrário à segurança nacional ou ao interesse público".
Alguns dos 110 mil cybercafés existentes no país foram fechados e, nos restantes, instaladas câmeras de segurança para controlar os internautas.
Os cybercafés são indispensáveis fontes de informação para os chineses que não têm dinheiro para adquirir seus próprios computadores, apesar da China ter comprado a tecnologia e as fábricas de PCs da IBM.
Números oficiais
Talvez por coincidência, talvez não, nesta mesma ocasião foram divulgadas pesquisas sobre a situação dos tongzhi: cerca de 40 milhões de homossexuais vivem na China e 21% já sofreram insultos e foram chantageados pela exposicão clara de sua preferência sexual.
Numa outra pesquisa oficial, coordenada pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção das Doença) a cifra cai para um misterioso número entre 5 e dez milhões, sendo que 840 mil são soropositivos.
Segundo Lu Fan, que coordena o combate à doença, "a culpa é da comunidade LGBT, que ignora as mais elementares informações sobre a pandemia".
Semente de novo Stonewall?
Em dezembro de 2011, 3 meses após a medida de força do controle da internet, o Ministério das Relacões Exteriores ordenou o cancelamento - uma hora antes da abertura - do Festival Gay e Lésbico que aconteceria no distrito de Dashanzi, em Pequim, com shows, debates, peças de teartro e exposicões.
Em protesto os organizadores se dirigiram ao bar "On/Off", point gay em Pequim.
Grande contingente de jornalistas presenciou a truculência: cerca de 20 policiais esvaziaram o local e retiraram pinturas e equipamentos de projeção e som que seriam usados no evento.
A polícia alegou que não havia sido solicitada permissão para produção de um evento especificamente LGBT, mas os organizadores acreditam que tratou-se, apenas, de homofobia.
O caso do bar "On/Off",segundo o mesmo Escritório de Segurança Pública, poderia produzir publicidade considerada maléfica na mídia chinesa e estrangeira
O Livro Negro
A organização "Repórteres sem fronteiras" recolheu testemunhos inéditos sobre a repressão na China em entrevistas com internautas, minorias étnicas, pacientes de Aids e os reuniu como "O livro negro sobre o Império vermelho", slogan de lançamento na França. A publicação mostra a maneira cruel como a ditadura chinesa trata seus oponentes e exalta a coragem dos dissidentes.
O livro contém depoimentos da Anistia Internacional, da Human Rights Watch, do Centro Tibetano pelos Direitos Humanos e Democracia da Fundação Laogai, do Centro de Direitos Humanos da China e dos próprios jornalistas que integram a organização.
Foi lançado em janeiro de 2004, quando o Presidente Hu Jintao, recebido com pompa e circunstância na França, defendeu a "democracia socialista" de seu pais e passou batido quando o assunto era a concessão das liberdades fundamentais no país mais populoso do mundo.
Este documento - imperdível - faz parte da coleção "Cahiers libres" da La Découverte, custa 16 euros e traz nas suas 224 páginas um mergulho no lado escuro da Lua do sucesso econômico da megapotência.
A homossexualidade na China antiga
A filosofia chinesa, baseada nas crenças sobrenaturais e místicas, entende que todo o comportamento dissonante causa desequilíbrio nas energias circulantes no planeta.
Os antigos não estavam preocupados com a diversidade sexual mas com assuntos concernentes à moral e à política.
A moral chinesa não estava baseada em tabus, mas alicerçada em ideais bem mais profundos: compaixão, justiça, urbanidade, sabedoria e confiança.
Sexualidade não era vergonha. O conceito moderno de orientação sexual é que pareceria estranho.
Depois de seguir a obrigação de prover o clã com herdeiros, os homens eram livres para seguir seus próprios padrões eróticos.
O conceito de pecado carnal foi introduzido quando, durante as Seis Dinastias, o Budismo passou a influenciar o Pensamento Chinês. A filosofia implantada não era particularmente homofóbica mas, vista pela perspectiva budista, a sensualidade passou a ser um atraso na evolução espiritual.
A atitude, novidade na China na época, foi o ponto de partida para o crescimento de uma espécie de puritanismo. Hoje, o Budismo e o Confucionismo não condenam a homossexualidade como acontece na cultura judaico-cristã. Mas acreditam que o ato é nocivo para a sociedade por desequilibrar as energias circulantes nas pessoas.
A corrente ZEN do Budismo é bem tolerante, chegando mesmo a compreender e aceitar a orientacão sexual de seus monjes acreditando que a busca do prazer ajuda a evolução da alma.
Certas correntes tântricas, inclusive, relacionam o prazer sexual com o estado de plenitude total.
O Confucionismo, mais rígido, considera a sociedade como um todo, uma família. E o objetivo básico de cada indivíduo deve ser constituir família. Todo o comportamento individual é orientado nesta direção, para não colocar em perigo a instituição familiar, ou melhor, a sociedade inteira.
Maoísmo
Os stalinistas consideravam a homossexualidade como um vício pequeno burguês e, mais tarde, com o advento do nacionalismo entre os 'apparatchiks' (comandantes) do PC, o 'vício' adquiriu aspecto de decadência ocidental.
Mas, o que sacudiu a sociedade chinesa em seus pilares, foi a ascenção de Mao Tsé Tung.
Priorizar a coletividade era a palavra de ordem. A homossexualidade foi reprimida imdediatamente. Primeiro, usando a noção confucionista de perigo social e, mais tarde, acrescentado-lhe o toque da perversão.
No começo do regime maoísta, as comunidades homossexuais foram confinadas em campos de reeducação, para respeitar a coletividade e "aprender a viver como todo mundo".
Mais maltratados que todos os inimigos do regime, depois de um período de no mínimo 5 anos, os que sobreviviam eram reintegrados à sociedade.
A partir dos anos 60, uma visão 'científica' passou a considerar os homossexuais doentes mentais. Começaram a ser empregados requintes da ciência moderna e os gays foram isolados em hospitais psiquiátricos.
Assim não haveria o risco de contaminacão pela perversão, principalmente entre os jovens. O período de internação também era longo, até que um médico considerasse o 'doente'curado.
Estudiosos do comportamento humano consideram difícil estabelecer os níveis de tolerância nos dias de hoje.
O país é enorme e a situacão muda de uma região para outra.
Em Hong Kong, desde a entrega da ilha à República Popular, segundo fontes oficiais a situação ficou relativamente tranquila e os direitos eram os mesmos aplicados na legislação do Reino Unido.
O Gay and Lesbian Right Action de Hong Kong informa, entretanto, que ainda existem condenações que podem chegar a dois anos e o Direito Chinês considera todo delito, mesmo a homossexualidade, como crime político.
Homossexuais continuam sendo 'tratados' em hospitais, com ou sem crueldade e a pressão social dos parentes, dos empregadores e dos amigos parece apontar para um futuro ainda mais duro.
O Governo promulgou leis que punem severamente qualquer atentado à integridade da família.
A reforma do Código Penal em 1997 ficou cima do muro no que diz respeito à legalização da homossexualidade, e apenas em 2004 o termo "doença mental"foi retirado do texto da Lei.
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