Deu no O GLOBO
As imagens do circuito de TV de um shopping que levaram à prisão de Igor Martins Pinheiro, 22 anos, e as de sua condução à delegacia do Leblon (14ª DP), na Zona Sul do Rio, falam tanto sobre o racismo quanto esclarecem o furto de uma bicicleta elétrica.
O suspeito é branco. Mas foi Matheus Nunes Ribeiro, um universitário negro que também tem 22 anos, o primeiro acusado do crime, no sábado. Ele esperava a namorada sentado sobre uma bicicleta idêntica, de sua propriedade, quando foi abordado pelo casal dono daquela que, segundo a polícia, havia sido levada por Igor meia hora antes.
Matheus só conseguiu se livrar das acusações de Mariana Spinelli e Tomás Oliveira depois de mostrar fotos antigas com a bicicleta. E de o casal constatar, ainda que sem consentimento, que a chave que tinha não abria o cadeado do veículo do estudante e instrutor de surfe.
Vítima de outro crime, Matheus o denunciou à polícia, o que Mariana e Tomás não fizeram. Em pouco tempo, os investigadores chegaram a Igor, dono de 28 registros criminais. A delegacia do Leblon fica na mesma rua do shopping, mas o casal achou mais fácil investir contra o instrutor de surfe.
Estudante de Educação Física, Matheus escreveu na internet e deu entrevistas descrevendo a convicção “da playboyzada do Leblon” que associa o negro ao crime e se dá ao direito de agir por conta própria, ainda que isso signifique o risco de ferir brutalmente a dignidade de uma pessoa. Se for o caso, “desculpa aí”.
O curioso é que, ao se analisar a cena do roubo da bicicleta revelada pela polícia, é difícil não constatar que o fato de ser branco favoreceu a ação do criminoso. Igor fica parado na esquina por alguns segundos e se volta para o veículo. Abaixa-se, arromba o cadeado da bicicleta e sai tranquilamente. No Leblon, um jovem negro de 22 anos não passa despercebido com as mãos numa bicicleta elétrica. Matheus sabe bem disso.
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