Shakespeare permanece um mistério
Apesar de uma corrente literária afirmar que ele jamais existiu, quase 4 séculos depois de sua morte, William Shakespeare (1564-1616) continua sendo considerado o mais famoso escritor da língua inglesa. Ele faria 450 anos nesta quarta-feira, 23 de abril.
Em praça pública, nos bosques ou no palácio da Rainha Elizabeth I (1533-1603) e de seu sucessor James I, Shakespeare renovou a poesia, trouxe a Renascença para a Inglaterra e, com seus personagens, criou mitos que se eternizaram. A frase “ser ou não ser, eis a questão”, da peça Hamlet, é das mais citadas, em todos os tempos.
Sua obra, que despertou interesse em Marx, fascinou Goethe, Victor Hugo, Machado de Assis, Oscar Wilde e, sobretudo, Freud, continua sendo referência para a crítica moderna.
Casado e com três filhos, escreveu 154 poemas aparentemente não destinados à publicação e dedicados a seu mecenas, Henry Wriothesley, terceiro Conde de Southampton. Os poemas contam a história de um triângulo amoroso bissexual: um poeta, seu amante e uma “Dama Negra”. Na dedicatória, declara: “O amor lhe que devoto é sem fim e este opúsculo sem começo é apenas uma pequena parcela supérflua dele.”
Na abertura de “O Rapto de Lucrécia”, publicado em 1594 e também dedicada ao Conde, diz: “O que faço é seu, o que vier a fazer também é seu porque uma parte de tudo que tenho é seu”.
É oportuno recordar que o Estatuto da Sodomia capítulo 17, que foi aprovado no Parlamento em 1562 – dois anos antes do nascimento do poeta -, considerava atos sexuais entre homens puníveis com a morte. Tantos derramamentos de ternura fizeram os biógrafos acreditarem que o “belo rapaz” dos 154 sonetos era o Conde e, confirmando, a dedicatória da primeira edição com nome à moda inglesa, diz :”ao único inspirador, W.H”.
A descrição do belo rapaz personagem dos poemas, entretanto, corresponde ao Conde de Pembroke: “a natureza te deu um rosto de mulher, professor /professora de minha paixão”. Os estudiosos da obra shakespeariana concordam que o misterioso WH era o Conde de Southampton , no mínimo bissexual - sempre cercados de belos jovens.
Não existem evidências “preto no branco” comprovando a orientação sexual. Mas, ninguém escreve com tão intenso sentimento sem estar envolvido. E o bardo faz parte de praticamente todas as listas de gays célebres existentes em qualquer idioma.
Roda da Fortuna
William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon, Inglaterra, a cerca de 200 km de Londres, terceiro filho dos oito do casal John e Mary Shakespeare. A família foi atingida pela mudança religiosa, quando a Rainha Elizabeth sucedeu Maria Tudor. A irmã mais velha foi batizada na fé católica e William segundo o rito da Igreja Anglicana.
O pai, artesão, fazia luvas para alta sociedade local e comprou a casa de Henley Street, endereço de nascimento do poeta. Em 1568, foi prefeito da cidadezinha. A relativa proximidade da capital do reino para a época favorecia o estabelecimento de feiras, bom comércio, mercados e, também, das epidemias de peste. Da capital chegavam sempre trupes de comediantes patrocinados pela Rainha ou pela nobreza
Em Stratford as fortunas se faziam e se dissipavam com rapidez e, assim, aconteceu com os Shakespeares: aos doze anos, com a falência do pai, Wiliam passou de uma vida confortável para o trabalho duro, ajudando no sustento da família. No que seria hoje o nível escolar fundamental, o jovem Shakespeare iniciou os estudos de grego e latim e continuou a cultivar a leitura de clássicos, poemas, novelas e fatos históricos .
Mais tarde, seguiu um de seus professores a Lancashire para ser preceptor, mas voltou a Stratford e casou-se (1582) com a filha de um rico fazendeiro de Shottery, Anne Hathaway, oito anos mais velha. O casal teve três filhos: Susanna, nascida seis meses após o casamento e os gêmeos Hamnet e Judith, em 1585.
A Glória
Existe uma lacuna entre o ano do nascimento dos gêmeos e a chegada a Londres. Ele pode ter seguido os comediantes do Conde de Derby ou pode ter viajado até a França e Itália com um grupo patrocinado pela Rainha, que passou por Stratford em 1587. A construção de novos teatros - “The Theatre”, em 1576, “La Courtine”, em 1577, “The Rose”, em 1587 - era tentadora para os jovens com talento e Shakespeare, embora com uma família para sustentar, não hesitou em seguir a inspiração. Inicialmente, teria sido guardador dos cavalos dos nobres que frequentavam as salas. A única certeza dos biógrafos é que foi naquele momento que começou a escrever.
Aos 28 anos, começa a ser conhecido como ator e dramaturgo, mas a peste, mais uma vez, fecha os teatros por dois anos. Durante o recesso, são criados Vênus e Adônis, o poema erótico “O rapto de Lucrécia” e a semente de sua primeira tragédia, “Titus Andronicus”. Estas obras atraem a atenção de Henry Wriothesley, conde Southampton, que passa a ser seu amigo e patrocinador.
Ao ingressar na Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, que possuía um excelente teatro em Londres, começa a escrever sua primeira peça: “Comédia de Erros”. Desde então, escreveu mais de trinta e nove textos, divididos entre comédias, tragédias e peças históricas. Além da fama, o trabalho trouxe a riqueza, pois era sócio da companhia teatral. Comprou uma casa em Stratford, outra em Londres e diversas propriedades. Sob Elizabeth I, a Inglaterra viveu tempos de ouro. O teatro deste período é conhecido, até hoje, como “teatro elisabetano”.
Em 1610, voltou para Stratford-upon-Avon, sua cidade natal, onde escreveu sua última peça – “A Tempestade”, terminada em 1613. Morreu em 23 de Abril de 1616, de causa ainda não determinada pelos historiadores. Provavelmente, uma infecção adquirida após seu jantar de 52º aniversário.
Reconhecido como o maior dramaturgo de todos os tempos, muitos pesquisadores se empenharam em resolver a pergunta: são de William Shakespeare as obras que levam seu nome?
O enigma permanece.
O autor de tão perfeitos textos, dizem críticos, biógrafos e “inimigos”, tinha bom conhecimento de Direito, profundo de Medicina, falcoaria, caça e outros esportes. Dominava perfeitamente a etiqueta da Corte, conhecia a linguagem dos soldados de infantaria e tinha grandes aptidões náuticas (descreveu cinco naufrágios em suas peças). O escritor das peças era um grande conhecedor dos clássicos gregos e romanos, da literatura e os idiomas da França, Itália e Espanha.
De acordo com a Enciclopédia Britânica, “a teoria que atribui a autoria das obras de Shakespeare a Bacon foi inicialmente apresentada em 1769, mas foi ignorada por uns 80 anos. Em 1885, formou-se a Sociedade Bacon para promover a causa e muitos fatos foram apresentados em seu favor. Roger Manners, o quinto conde de Rutland, e William Stanley, o sexto conde de Derby, também têm os seus defensores”.
William Shakespeare permanece um mistério e um enigma.
Em praça pública, nos bosques ou no palácio da Rainha Elizabeth I (1533-1603) e de seu sucessor James I, Shakespeare renovou a poesia, trouxe a Renascença para a Inglaterra e, com seus personagens, criou mitos que se eternizaram. A frase “ser ou não ser, eis a questão”, da peça Hamlet, é das mais citadas, em todos os tempos.
Sua obra, que despertou interesse em Marx, fascinou Goethe, Victor Hugo, Machado de Assis, Oscar Wilde e, sobretudo, Freud, continua sendo referência para a crítica moderna.
Casado e com três filhos, escreveu 154 poemas aparentemente não destinados à publicação e dedicados a seu mecenas, Henry Wriothesley, terceiro Conde de Southampton. Os poemas contam a história de um triângulo amoroso bissexual: um poeta, seu amante e uma “Dama Negra”. Na dedicatória, declara: “O amor lhe que devoto é sem fim e este opúsculo sem começo é apenas uma pequena parcela supérflua dele.”
Na abertura de “O Rapto de Lucrécia”, publicado em 1594 e também dedicada ao Conde, diz: “O que faço é seu, o que vier a fazer também é seu porque uma parte de tudo que tenho é seu”.
É oportuno recordar que o Estatuto da Sodomia capítulo 17, que foi aprovado no Parlamento em 1562 – dois anos antes do nascimento do poeta -, considerava atos sexuais entre homens puníveis com a morte. Tantos derramamentos de ternura fizeram os biógrafos acreditarem que o “belo rapaz” dos 154 sonetos era o Conde e, confirmando, a dedicatória da primeira edição com nome à moda inglesa, diz :”ao único inspirador, W.H”.
A descrição do belo rapaz personagem dos poemas, entretanto, corresponde ao Conde de Pembroke: “a natureza te deu um rosto de mulher, professor /professora de minha paixão”. Os estudiosos da obra shakespeariana concordam que o misterioso WH era o Conde de Southampton , no mínimo bissexual - sempre cercados de belos jovens.
Não existem evidências “preto no branco” comprovando a orientação sexual. Mas, ninguém escreve com tão intenso sentimento sem estar envolvido. E o bardo faz parte de praticamente todas as listas de gays célebres existentes em qualquer idioma.
Roda da Fortuna
William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon, Inglaterra, a cerca de 200 km de Londres, terceiro filho dos oito do casal John e Mary Shakespeare. A família foi atingida pela mudança religiosa, quando a Rainha Elizabeth sucedeu Maria Tudor. A irmã mais velha foi batizada na fé católica e William segundo o rito da Igreja Anglicana.
O pai, artesão, fazia luvas para alta sociedade local e comprou a casa de Henley Street, endereço de nascimento do poeta. Em 1568, foi prefeito da cidadezinha. A relativa proximidade da capital do reino para a época favorecia o estabelecimento de feiras, bom comércio, mercados e, também, das epidemias de peste. Da capital chegavam sempre trupes de comediantes patrocinados pela Rainha ou pela nobreza
Em Stratford as fortunas se faziam e se dissipavam com rapidez e, assim, aconteceu com os Shakespeares: aos doze anos, com a falência do pai, Wiliam passou de uma vida confortável para o trabalho duro, ajudando no sustento da família. No que seria hoje o nível escolar fundamental, o jovem Shakespeare iniciou os estudos de grego e latim e continuou a cultivar a leitura de clássicos, poemas, novelas e fatos históricos .
Mais tarde, seguiu um de seus professores a Lancashire para ser preceptor, mas voltou a Stratford e casou-se (1582) com a filha de um rico fazendeiro de Shottery, Anne Hathaway, oito anos mais velha. O casal teve três filhos: Susanna, nascida seis meses após o casamento e os gêmeos Hamnet e Judith, em 1585.
A Glória
Existe uma lacuna entre o ano do nascimento dos gêmeos e a chegada a Londres. Ele pode ter seguido os comediantes do Conde de Derby ou pode ter viajado até a França e Itália com um grupo patrocinado pela Rainha, que passou por Stratford em 1587. A construção de novos teatros - “The Theatre”, em 1576, “La Courtine”, em 1577, “The Rose”, em 1587 - era tentadora para os jovens com talento e Shakespeare, embora com uma família para sustentar, não hesitou em seguir a inspiração. Inicialmente, teria sido guardador dos cavalos dos nobres que frequentavam as salas. A única certeza dos biógrafos é que foi naquele momento que começou a escrever.
Aos 28 anos, começa a ser conhecido como ator e dramaturgo, mas a peste, mais uma vez, fecha os teatros por dois anos. Durante o recesso, são criados Vênus e Adônis, o poema erótico “O rapto de Lucrécia” e a semente de sua primeira tragédia, “Titus Andronicus”. Estas obras atraem a atenção de Henry Wriothesley, conde Southampton, que passa a ser seu amigo e patrocinador.
Ao ingressar na Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, que possuía um excelente teatro em Londres, começa a escrever sua primeira peça: “Comédia de Erros”. Desde então, escreveu mais de trinta e nove textos, divididos entre comédias, tragédias e peças históricas. Além da fama, o trabalho trouxe a riqueza, pois era sócio da companhia teatral. Comprou uma casa em Stratford, outra em Londres e diversas propriedades. Sob Elizabeth I, a Inglaterra viveu tempos de ouro. O teatro deste período é conhecido, até hoje, como “teatro elisabetano”.
Em 1610, voltou para Stratford-upon-Avon, sua cidade natal, onde escreveu sua última peça – “A Tempestade”, terminada em 1613. Morreu em 23 de Abril de 1616, de causa ainda não determinada pelos historiadores. Provavelmente, uma infecção adquirida após seu jantar de 52º aniversário.
Reconhecido como o maior dramaturgo de todos os tempos, muitos pesquisadores se empenharam em resolver a pergunta: são de William Shakespeare as obras que levam seu nome?
O enigma permanece.
O autor de tão perfeitos textos, dizem críticos, biógrafos e “inimigos”, tinha bom conhecimento de Direito, profundo de Medicina, falcoaria, caça e outros esportes. Dominava perfeitamente a etiqueta da Corte, conhecia a linguagem dos soldados de infantaria e tinha grandes aptidões náuticas (descreveu cinco naufrágios em suas peças). O escritor das peças era um grande conhecedor dos clássicos gregos e romanos, da literatura e os idiomas da França, Itália e Espanha.
De acordo com a Enciclopédia Britânica, “a teoria que atribui a autoria das obras de Shakespeare a Bacon foi inicialmente apresentada em 1769, mas foi ignorada por uns 80 anos. Em 1885, formou-se a Sociedade Bacon para promover a causa e muitos fatos foram apresentados em seu favor. Roger Manners, o quinto conde de Rutland, e William Stanley, o sexto conde de Derby, também têm os seus defensores”.
William Shakespeare permanece um mistério e um enigma.
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