Duas décadas em estado de paixão
Em 1981, 3 anos antes de morrer em consequência das complicações da Aids, o filósofo e psicólogo francês Michel Foucault declarou numa entrevista: “Venho vivendo há 18 anos em estado de paixão por uma pessoa. Em alguns momentos isto toma a forma de amor.
Mas, na verdade, trata-se mesmo de estado de paixão entre nós dois”. O inspirador deste sentimento tem nome : Daniel Defert.
Fiel até o último instante, herdeiro e continuador da obra, Defert fundou e presidiu por alguns anos uma fundação destinada a pesquisar a cura da doença que levou aquele que foi sua paixão.v>
Até hoje, corre o mundo participando de seminários, fóruns, exposições e homenagens à memória do companheiro.
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Pierre Michel Foucault nasceu em 15 de Outubro de 1926 em Poitiers, França. Seu pai e avôs paterno e materno foram cirurgiões e professores de anatomia muito conhecidos e era esperado que Foucault desse continuidade à tradição familiar.
Fez seus primeiros estudos na cidade natal, mas foi em Paris, cursando o Lycée Henri IV, que descobriu a filosofia, sob a orientacão de Jean Hyppolite, um especialista em Hegel.
Aos 20 anos era uma pessoa de temperamento fechado, agressivo, crítico severo e irônico.
A École Normal Superieure, onde continuou os estudos, estimulava a competitividade e Foucault, que já era notado como um jovem brilhante pensador, não conseguiu dominar seus demônios internos e tentou o suicídio, sendo internado para tratamento psiquátrico.
O impulso de autodestruição reapareceria em outros momentos de sua vida. O indiscreto psiquiatra que o atendeu explicou, mais tarde, que a causa do desequilíbrio emocional foi a certeza da, até então latente, homossexualidade.
A vida continua
A triste experiência trouxe o interesse pela psiquiatria, psicologia e psicanálise, que marcariam para sempre sua obra. Terminado o tratamento e retomada a rotina diária, Foucault conhece Louis Althusser( filósofo marxista) que o apresenta aos líderes do Partido Comunista Francês e se torna responsável pela sua filiação, em 1950.
Em 1953, revoltado com a atitude preconceituosa de Stalin que considerava a homossexualidade ”vício burguês e símbolo da decadência capitalista”, abandona o Partido.
Licenciado em Filosofia em 1952, dois anos depois se gradua em Psicologia, com especialização em Psicopatologia.
Leitor apaixonado de Platão, Nietzsche, Hegel, Heidegger, Kafka, Faulkner, Gide, Genet, Sade e Bachelard mergulha fundo na obra de Kant. Entre 1954 e 1958, foi professor na Universidade de Uppsala, na Suécia.
A esta experiência seguiram-se outras nas Universidades de Varsóvia e de Hamburgo. Durante cerca de quatro anos manteve uma relação que considerava “não monogâmica” com o compositor francês Jean Barraqué (1928-1973).
A loucura e a sanidade
Em 1960, retorna à França como chefe do Departamento de Filosofia da Universidade de Clermont-Ferrand, quando publica sua obra central “Loucura e Civilização”, onde afirma que a “loucura”, tal como a conhecemos e as distinções que fazemos entre ela e a “sanidade” são invenções da Idade da Razão. Foi neste período, também conhecido como Iluminismo (início do século 18), que as artes e o conhecimento floresceram na Europa.
Iluminismo
O objetivo dos iluministas era dar ênfase à educação, acompanhada de ensinamentos morais e políticos, para que as massas fossem esclarecidas, criando uma sociedade mais justa onde o progresso cultural e avanço tecnológico pudessem apagar os fanatismos e dogmas religiosos.
Daniel
Daniel Defert |
A volta à França, para retomar a cátedra, coincide com o encontro com Daniel Defert, um jovem aluno de filosofia e ativista político. Foi uma relação muito fértil para Foucault.
Em 1966, publica sua obra central “A ordem das coisas” - uma apreciação sobre as consequências do conhecimento nos 150 anos anteriores.
Este livro lhe trouxe notoriedade e respeito na comunidade acadêmica. Quando Defert foi prestar seu serviço militar na Tunísia, Foucault o acompanhou, lecionando ali entre 1966 e 1968.
No retorno, passou a chefiar o Departamento de Filosofia da Universidade de Paris em Vincennes e Defert começou a ensinar sociologia. Juntos, acompanharam a revolta estudantil de maio de 1968.
Militância
Abalado com a detenção de estudantes formou, com outros intelectuais, o GIP - Grupo de Ajuda e Informação para os presos políticos. Lutou, juntamente com Jean Paul Sartre, pelos direitos civis dos imigrantes.
Michel Foucault esteve no Brasil em 1965 convidado por Gerard Lebrun (filósofo francês residente em São Paulo) para participar de seminários, quando conheceu membros ativos da resistência à ditadura militar então vigente.
Em 1972, ano de sua segunda visita , (a convite do poeta e escritor Affonso Romano de Sant’Anna)para conferências na PUC do Rio de Janeiro,expressou sua revolta com as atrocidades cometidas pelos militares.
Morte aos 58 anos
Em 1970, passou a fazer parte do quado de professores do Collège de France e produziu continuamente até o fim. Seu desaparecimento foi motivo de muitas controvérsias. A AIDS, cujo vírus tinha sido recentemente identificado, ainda era um enorme tabu, uma sigla que não podia ser siquer mencionada em público.
Pensador subversivo e transgressor, grande figura intelectual dos anos 60 e 70 morreu em Paris ( 25 de junho de 1984) aos 58 anos, e continua a ser "uma formidável caixa de utilidades para compreender nossa sociedade”, segundo o jornal “Libération”, que publicou um caderno de 12 páginas em homenagem aos 20 anos de seu falecimento.
Escolha acertada
Escolha acertada
Daniel Defert, motivador do “estado de paixão”, ocupou todos os cargos ( de 1969 a 1984) no Departamento de Filosofia da Universidade de Paris e, após a morte do companheiro, criou e presidiu até 1991 a AIDES - uma fundação para pesquisas sobre a Aids.
*********************** Bibilografia básica de Michel Foucault http://www.sedes.org.br/Centros/Filosofia/bibliografia_basica.htm
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