segunda-feira, 3 de outubro de 2022

As religiões e a homossexualidade. -1

 


                                           
 Antiguidade sem fronteiras                                                     


A noção de sexualidade na Antiguidade era bastante liberal, mas a moral sexual, tendo a Religião como parâmetro da conduta social, variou através dos tempos e das culturas.

Salvo o incesto e as relações com parentes muito próximos, tudo o mais era considerado lícito.

Não havia um código de acertos, erros e pecados, apenas uma postura firme sobre quem era o passivo e o ativo. O parceiro (a) passivo(a) podia ser mulher, homem, jovem, animal ou objeto inanimado.

Ainda existe imensa curiosidade sobre esta sutil diferenciação porque, se na antiguidade não havia fronteira entre homos e héteros, a cada religião vinha quase agregado um código moral.
Em contrapartida, todos os ritos do paganismo falam de Deuses que tiravam dos prazeres do sexo a energia para criar o mundo.

A pederastia - prática sexual entre um homem e um rapaz mais jovem - na civilização grega clássica- era considerada normal e, mais que isso, a forma mais pura de amor, parte fundamental da educação de um rapaz e chave para sua entrada na sociedade.

”Comportamento de homem” era aprender com os mais velhos do mesmo sexo. Os gregos tachavam de “afeminado” um homem que só buscasse prazer nas mulheres.
A religião ainda é um poderoso freio nos nossos dias, quase garantia contra a promiscuidade e cada uma delas tem seu código.

Judaísmo

Proíbe relações sexuais fora do casamento heterossexual e observa a “Niddah” –relações em alguns períodos, inclusive durante a menstruação e o “Tzniut” que é a observação de vestimentas modestas e comportamento discreto.

A homossexualidade é um pecado grave.
Algumas correntes liberais já adotaram comportamento mais flexível, existem sinagogas e rabinos que dirigem cultos específicos para gays e lésbicas.


Em dezembro de 2006, a Assembléia Rabínica do Comitê de Lei Judaica e Padrões - a mais alta corte do judaísmo conservador - abriu a possibilidade de ordenação de rabinos gays e lésbicas e celebração de união de pessoas do mesmo sexo, e, contraditoriamente, esclareceu que não se trata de apoiar o casamento gay.
 
Segundo um porta-voz da Congregação Beth Simchat Torah, de Nova York, a maior sinagoga do mundo para a comunidade de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, foi uma grande vitória contra o conservadorismo.
A abertura religiosa-sexual permite que cada comunidade estabeleça suas regras e reflete uma mudança profunda em relação à homossexualidade.

Judaísmo Ortodoxo

Existe um amplo espectro na observância das regras do Judaísmo ortodoxo, dependendo da aspiração do religioso.

São proibidos pensamentos imorais, roupas consideradas não pudicas, observação lasciva da anatomia do sexo oposto - fotos, revistas, filme - que levem a estado de excitação sexual, más companhias, freqüência a locais onde a atmosfera de “depravação” seja visível, saudações muito cordiais (beijos na face entre pessoas de sexos opostos, apertos de mão muito fortes).

Também proibidas  vestimentas usadas pelo sexo oposto - calças compridas para mulheres e qualquer espécie de saias para homens, observação de atos sexuais entre animais ou pássaros, abraços e beijos nas faces ou na mão na esposa alheia em público, sexo na menstruação, qualquer espécie de envolvimento afetivo com parentes próximos,  , masturbaçao - considerada desperdício de sêmen (mulheres, por não possuírem sêmen, podem se masturbar).

Cristianismo 

O cristianismo, que se formou e fundamentou sob o Império Romano, passou a se constituir não apenas em um conjunto de regras para o bem viver da alma e do corpo, mas um código jurídico sobre sexualidade, aborto, adultério e castidade.

Embora existam diferentes denominações no Cristianismo há um consenso a respeito da sexualidade. A base da religião diz que a sexualidade foi criada por Deus com o propósito da procriação entre casais heterossexuais, o que resulta numa relação de emoção e espiritualidade e a criação de uma família, com duração de uma vida inteira.
Como o Cristianismo tem como  objetivo a procriação, a sodomia é coisa do Diabo, a inversão das idéias de Deus sobre sexo.
 
A Igreja Católica considera cada ser humano um templo de Cristo, assim é justificada a condenação a respeito da homossexualidade: de acordo com a doutrina,o corpo não deve ser submetido a atos julgados “degradantes”.
 Um ínfimo numero de igrejas católicas entende as relações entre homossexuais.  

Os católicos mais liberais argumentam que as regras sobre sexo extra-matrimonial e castidade para os padres vieram de outros tempos e as avalizam sem nem saber porque, já que – de acordo com a declaração do Vaticano Persona Humana, publicada em 1976 - a Igreja faz distinção entre atos homossexuais e pessoas com essa orientação sexual e condena a homofobia (posição bastante cômoda, pois está subentendido que quem abraça a religião opta pela castidade.


Numa iniciativa pioneira, um grupo de leigos católicos criou, no Rio de Janeiro, o site Diversidade Católica (www.diversidadecatolica.com.br) acreditando que é possível ser católico e gay, numa ampla acepção deste termo, incluindo toda diversidade sexual (na época,LGBT) e  sugerindo uma aglutinação proporcionando visibilidade a outros movimentos semelhantes, pois o próprio termo “católico” significa universal.

O inspirado texto de apresentação do site, formado em julho de 2006, diz que “quem quer viver de forma digna e bela sua orientação homossexual, sendo ou não celibatário, pode contar com os auxílios da graça de Deus”.

A mancha da Inquisição

Tribunal da Inquisição
Criada em torno de 1199 pelo papa Inocêncio III, visava se contrapor a tudo que não fosse católico ou não estivesse dentro das regras católicas.
 
A partir de 1252, sob Inocêncio IV, a tortura foi formalmente autorizada nos julgamentos do Tribunal da Inquisição. 

Em 1478, sob o reinado de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, com o aval do Papa Cisto IV, foi criado o Conselho Supremo da Inquisição Espanhola e suas colônias.
Julgava o que entendesse ser qualquer crime contra a fé, moral, bons costumes, ordem pública, bruxaria, comércio e leitura de obras consideradas indecentes, subversivas ou impudicas, prática de homossexualidade.

Bastava o indivíduo ser denunciado ou suspeito e logo ia para um primeiro julgamento que decidia sobre a gravidade do caso seguido de prisão e seqüestro de bens.
Depois o acusado era entregue às autoridades civis, que cuidavam da execução na fogueira.
 
A Inquisição em Portugal abrangia suas colônias.
No Brasil, os bispos locais tinham poderes para prender e dar procedimento aos processo, até o envio de prisioneiros à Inquisição em Lisboa. 

Na Espanha, a Inquisição acabou em 1843, e em Portugal um pouco antes disso - final do século XVIII.


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