domingo, 1 de setembro de 2019

Oh, Walt Whitman





(31/5/1819  -   26/3/1892)
Bicentenário do nascimento

E até hoje, 127anos depois de nos deixar,Whitman  , continua sendo grande fonte de inspiração


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” Velho e formoso. Irmão em Universo“
Portugal Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze
De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro, 

Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt, Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser

Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,
Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,
E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias, 

Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente".

(da “Saudação a Walt Whitman”, de Fernando Pessoa)

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Quem foi este homem por onde perpassaram as obras de tantos outros poetas,  além de Garcia Lorca, Jorge Luis Borges, Gore Vidal, Neruda, José Marti, Fernando Pessoa Maiakovski, ErzaPound, Harold Bloom, Allen Ginsberg, Jack Kerouac e os nossos Carlos Drummond de Andrade (A rosa do povo-1945), Roberto Piva (Paranóia,1963) Carlos Felipe Moisés (Carta de Marear) ?

Qual a magia emanada daquele que é, frequentemente, chamado “Pai do Verso Livre”?

Poeta, ensaísta, humanista, professor, tipógrafo, diretor de jornal diário (Aurora), operário agrícola, funcionário de escritório e enfermeiro voluntário na Guerra Civil Americana, Walter Whitman causou grandes controvérsias no seu tempo, especialmente pela coleção de poesias “Leaves of Grass” (”Folhas de Relva”), considerada obscena por conter “sexualidade explícita”. 

Considerado um dos mais influentes intelectuais de todos os tempos, incorporou aspectos do realismo (abordagem objetiva da realidade) e do transcendentalismo (idéias que pregam o estado espiritual transcendendo o físico).

Foi o primeiro representante da classe trabalhadora a alcançar a um lugar de honra na literatura nos Estados Unidos.
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Walter Whitman Jr. nasceu em 31 de maio de 1819, em West Hills, Long Island, Estado de Nova York. Segundo dos nove filhos de pai inglês e mãe holandesa, neto de camponeses e filho de um carpinteiro instalado em Brooklyn, então uma simples aldeia situada nos arredores de Nova York.

Em 1823, a família mudou-se para o Brooklyn, onde o pai instalou sua oficina de carpintaria e nosso biografado estudou em escola pública, dos seis aos onze anos.

Trabalhou como aprendiz de tipografia, impressor e professor até 1838, já responsável pela edição de diversos jornais, Inclusive o prestigiado Daily Eagle.

Em expansão, o mercado imobiliário de Nova York ganhou a atenção de Walt que, usando sua experiência de vida, ali especulou e permaneceu entre 1850 1855, sempre escrevendo poemas, contos e artigos com pouca ou nenhuma repercussão.

Walt lia Robert Owen, Dante, Fanny Wright e Ralph Waldo Emerson e absorvia idéias do movimento Quaker.

E, geminianamente, freqüentava a boemia literária, os operários das docas, os índios na Luisiana e exercia uma assumida homossexualidade.

Um livrinho de 96 páginas foi o experimento mais audaz e mais vasto que a história da literatura registra”. Jorge Luis Borges Nos primeiros dias de julho de 1855, Walt Whitman lançou no Brooklyn, New York, um livrinho de 96 páginas que vinha sendo trabalhado desde 1847- “Leaves of Grass” - com 12 longos poemas, impresso por conta própria.

Não havia menção de quem o escreveu e nem do editor.
A única dica era a foto de um homem de meia idade nas chamadas “mangas de camisa.”

Era um segredo facilmente descoberto porque um do poemas, Song Of Myself (Canto de Mim Mesmo), ajudava a entender o autor: “Walt Whitmam, um cosmos, o filho de Manhattan / Turbulento, carnal, sensual, comendo, bebendo e procriando / Não é um sentimental, não olha de cima os homens e as mulheres / nem se afasta deles / Não é mais modesto que imodesto” (tradução : José Agostinho Baptista)

A crítica arrasou o autor desconhecido por conta “da exaltação do corpo e do amor sexual” mas - também e sobretudo - pelo uso do verso livre em linhas “de estrutura orgânica natural” Era uma obra destinada a ganhar a posteridade, lançando um estilo e influenciando gerações de poetas e intelectuais, através dos tempos.

Naquele momento da História, quase um século depois da independência, os Estados Unidos expandiam as fronteiras ao oeste e começava a era capitalista. 
Walt Whitman vendeu a casa onde morava para bancar a edição do livro.

Os oitocentos exemplares quase não foram vendidos e tudo parecia um fiasco  quando chegou uma carta do filósofo Emerson, com palavras de estímulo.
Ali foi iniciada uma longa amizade e lançada a pedra fundamental do sucesso da obra.
Em 1873, parcialmente paralisado por um ataque cardíaco, Walt passou a morar com um dos irmãos em Camden, New Jersey.
E escrevia, escrevia, escrevia, focado na única obra.

A nona edição - a definitiva - contém muitos milhares de poemas. “Leaves of Grass” vai aumentando permanentemente, à medida que os grandes espaços da América a tornavam "a terra destinada a ser percorrida, unida por uma rede".

Visto com a perspectiva do tempo acho que agora em 2011, Walt Whitman seria um incansável blogueiro.

Em julho de 2005, nos 150 anos da publicação original, surgiu uma nova tradução tomando por base a edição de 1855, assinada pelo poeta Rodrigo Garcia Lopes (Editora Iluminuras).

O sucesso fez com que os livros se esgotassem em pouco tempo.
Para atender a demanda, acaba de ser lançada, pela mesma Iluminuras, uma reedição, já disponível ao público.

Cantor da epopéia democrata


Entre 1855 e 1892, Whitman bancou nove edições de “Leaves of Grass”, todas diferentes na qualidade dos poemas e na organização interna.
Tinha a obsessão de marcar todas as etapas da epopéia americana e deixá-las 
ao alcance do futuro.

No verão de 1856, a 2ª edição vem com 32 poemas numerados e intitulados. Ali está Sundown Poem, mais tarde Crossing Brooklyn Ferry 

(Tomando a Balsa para o Brooklyn). Nos ferry-boats, as centenas e centenas de pessoas / retornando á casa, são ainda mais interessantes do que você imagina / E vocês, que vão atravessar de margem a margem, ano / vocês significam mais para mim, e mais em meus pensamentos / do que jamais poderiam imaginar.”(tradução : Maria Emília Guttilla e Rodolfo Witzig Guttilla).

A terceira edição vem publicada por editora de mercado e traz 154 poemas.
Ali estão obras clássicas como Premoniton (depois Calanus e Startingfrom Paumanok). 

Um campeão de audiência é Saindo de Paumanok:


“Saindo da ilha em forma de peixe / onde eu nasci – Paumanok - / bem concebido e criado por uma perfeita mãe, depois de andar muitas terras / morando em Manhattan, cidade minha / ou nas savanas do Sul / ou soldado acampado ou carregando / o fuzil e a mochila / ou labutando nas minas da Califórnia / ou bronco em minha casa nos bosques de Dakota / a comer e beber água de fonte / ou escondido para meditar / em algum canto bem fundo / longe do estrídulo das multidões (tradução : Geir Campos)

O Captain! My Captain!

A guerra civil, iniciada em 1861, levou Whitman a Washington para cuidar de um irmão ferido no conflito.

Decidiu dedicar seu tempo a tratar de soldados feridos, como voluntário, nos hospitais da cidade e, depois, dedicou-se a obras humanitárias em benefício dos ex- combatentes.

Em maio de 1865, saíram os Dum Taps, poemas da guerra depois incorporados a Leaves of Grass, alternando patriotismo com a dor pela morte de tantos americanos. .


O poema O Captain! My Captain! pertence à edição do final do mesmo ano, agora nomeado Sequel to Drum Taps, depois renomeado para Memories of President Lincoln, e é uma homenagem ao “grande chefe mártir da democracia”.

Numa cena do filme “Sociedade dos Poetas Mortos” o poema tornou-se muito conhecido.
O CAPTAIN! My Captain! our fearful trip is done; The ship has weather’d every rack, the prize we sought is won; The port is near, the bells I hear, the people all exulting, Oh capitão! Meu capitão! nossa viagem 
medonha terminou;
O barco venceu todas as tormentas, o prêmio que perseguimos foi ganho;
O porto está próximo, ouço os sinos, o povo todo exulta, Tradução: http://www.ocaixote.com.br/caixote07/captain.html

Em 1881, sai a sétima edição com a ordem e estrutura finais.
Os novos poemas que foram incorporados na oitava edição apareceriam em anexos.

A nona edição (1889) foi chamada pelos críticos de “versão do leito de morte”.
Publicada em 1892, consagrou Walt Whitman como a voz do conhecimento que vem de cada pessoa e das forças da natureza e demais formas de vida em todo o universo, da mais distante estrela em anos luz até as folhas da relva.

No Natal de 1889, ele escreveu um poema saudando o nascimento da nova república do Brasil "

Saudação de Natal" (de um grupo de estrelas do norte para seus pares do sul. 1889-90) BEM-VINDO irmão brasileiro! Abriu-se teu amplo espaço, Oferecemos a mão amiga, um sorriso vindo do Norte, uma saudação brilhante. 

(Deixe o futuro falar por si, revelando suas dificuldades, sua bagagem, É nossa, nossa a atual vibração, a busca da democracia, a aprovação e a fé)A ti estendemos nossos braços, volvemos nossos pensamentos,A ti dirigimos nosso olhar esperançoso,Tu te unistes aos livres, Tu passastes a ter brilho próprio,Tu aprendestes bem a verdadeira lição com as nações que brilham nos céus, (Brilham mais que a Cruz e a Coroa),Vamos chegar ao topo de toda a humanidade.”


Nosso “irmão em Universo”, morreu em Camden, New Jersey, no dia 26 de Março de 1892. ****************************************************************************
“Nem um só momento, velho e formoso Walt Whitman, deixei de olhar a tua barba cheia de borboletas, os teus ombros de bombazina gastos pela lua, as tuas coxas de Apolo virginal, 1ª tua voz como coluna de cinza; ancião formoso como a bruma, que gemias como um pássaro” Federico Garcia Lorca (trecho de” Ode a Walt Whitman”) ******************************************************************************

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