Platéia estupefaciada.
Polanski, realmente, não é para principiantes....,
E me autoelogiei em silêncio pela compreensão e captação da mensagem que ele desejou passar.
A vivência de tantos anos ,lidando com pessoas da comunidade LGBT portadoras de problemas e angústias , bem que ajudou.
Todas elas traumatizadas pela inadaptação ao meio em que vivem e ao silêncio em que são obrigadas a se refugiar.
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TEXTO DE INACIO ARAUJO
Crítico de cinema da FOLHA
""Uma atriz entra no teatro onde acaba de terminar uma sessão de testes para a peça "A Pele de Vênus".
Vanda (Emanuelle Seigner) é o seu nome e parece ter todas as qualidades para ser rejeitada: é mal educada, vulgar, ignorante. E, pior, já vai dizendo que a peça, adaptada do romance de Leopold von Sacher Masoch (1836-1895) é pornográfica.
Vanda é insistente. Tanto que o adaptador e diretor Thomas (Mathieu Amalric) não consegue se livrar dela. Ao fim, concede-lhe o direito de ler uma cena.
Então, a surpresa: Thomas percebe que Vanda não é a atriz pornô que ele imaginava. Ela se transfigura. Na pele de Wanda von Dunajev mudam a voz, os gestos, o olhar.
Thomas, boquiaberto, começa a lhe dar as réplicas.
A satisfação do encenador faz com que a comunicação entre os dois se aprofunde. Aturdido, ele percebe que Vanda tem a peça decorada.
A Vênus diante dele não deixa de lembrar Marlene Dietrich (1901-1992). E lembrar Marlene é, imediatamente, evocar um jogo de dominação de que a perversão não está ausente. Afinal, ninguém adapta Masoch impunemente.
De leitor, Thomas converte-se em Séverin, o personagem masculino. Como resistir, afinal, a uma atriz que conhece tão bem o seu papel? E que dá sugestões pertinentes sobre a peça?
Com isso, o jogo está lançado: quem dirige? Thomas ou Wanda? O conflito de poder, algo bem a gosto do diretor Roman Polanski, entra em cena. Mas o homem parece não ter muitas armas. Quando Vanda lhe diz que a peça é sexista, tudo que ele pode articular são alguns lugares comuns sobre a mania de reduzir tudo a um fenômeno social ou psicológico.
Existe ainda a troca constante de papéis, como se os personagens se duplicassem.
As tensões interpessoais e as perversões, também.
E presente está, sobretudo, a atriz Emmanuelle Seigner. Porque este é filme feito por Polanski para Seigner.
Ela é Vanda, Wanda, Marlene Dietrich: é teatro e cinema se fazendo diante de um Mathieu Amalric que parece tão desconcertado quanto Thomas diante de sua Vênus."
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