segunda-feira, 29 de junho de 2015
George Sand
Crossdressser, anfitriã da intteligensia e avó devotada
Imagine o tamanho de seu espanto, ao se deparar hoje – em pleno século 21- com uma bela baronesa divorciada vestindo smoking, fumando seu charuto cubano e com um diversificado portfólio amoroso : um tórrido caso de amor com o compositor mais famoso do mundo e com o médico que o tratou das mazelas de sua saúde, um escritor jovem e talentoso bem mais moço, a atriz mais cortejada e admirada de sua época, uma prima dona cantora de ópera e com um padre excomungado, entre outros.
E que a mulher, ela mesma, fosse a mais conhecida, lida e admirada escritora de seu país, pelos seus dezoito livros, vinte peças teatrais e inflamada militância política.
Baronesa Dudevant
Amandine Aurore Lucie Dupin, mais conhecida pelo pseudônimo masculino George Sand, nasceu em Paris no dia 1º de Julho de 1804.
Com a morte do pai, foi morar com a aristocrática avó em Nohant e lá viveu até os 13 anos, quando foi estudar num convento de freiras inglesas.
Aos 18, casou-se com o Barão Dudevant, com quem teve os filhos Maurice e Solange (segundo as más línguas, Solange era filha de um outro nobre das redondezas).
Em 1831, já separada, conhece o escritor Jules Sandeau que lhe inspira o codinome que a tornará imortal.
Codinome George Sand
Os temas que abordava eram ousados demais para uma época em que a uma mulher estava sempre destinado o papel de esposa, mãe, dona de casa.
A Baronesa Dudevant, inspirada pelo entusiasmo que sua mãe lhe passou pela causa socialista e pelo espírito independente que herdou da avó, decidiu usar roupas masculinas para poder frequentar, sem restrições, o ambiente literário, político e boêmio da capital francesa.
Mandou confeccionar um comprido casaco masculino de cor cinza, um chapéu da mesma tonalidade, botas e um echarpe. Assim, circulava à vontade, fumava, usava uma linguagem livre e chegava em casa tarde da noite.
Escreveu “Indiana”, que lhe trouxe fama instantânea, ”Valentine” e “Lélia”. Passa a ser colaboradora do “Le Figaro” e de muitos outros jornais e revistas.
O público ficou surpreso com a revelação de que se tratava de uma mulher. Seu comportamento inusitado provocava espanto e irritação.
Alfred de Musset
Em 1832, por ocasião da publicação de "Indiana", conheceu o poeta Allfred de Musset, então com 20 anos – doze anos mais moço. Um caso de amor à primeira vista. Depois de poucas semanas de convívio partiram para uma viagem romântica à Itália, em companhia do compositor Liszt e esposa.
Em Veneza, Musset ficou gravemente doente e foi tratado por Pietro Pagello, que também se apaixonou por George Sand. O romance relâmpago com o médico italiano motivou rompimento do casal.Musset amava Pauline que amava George Sand.
Pauline Garcia Viardot (1821 - 1910) foi uma famosa compositora e cantora lírica no século 19. Cortejada por Musset, era também uma mulher fora dos padrões de sua época. Falava correntemente meia dúzia de idiomas e usava várias técnicas de composição.
A carreira bem sucedida a levou por toda a Europa, e acabou se fixando em São Petesburgo. Suas performances inspiraram Chopin, Berlioz e Sain-Saëns.
George Sand, com quem manteve uma curta ligação tornou-a imortal como a heroína do romance “ Consuelo”, em 1843.
Frédéric Chopin
Chopin conhece Sand em 1836. A escritora logo se apaixona pelo compositor doente, carente, desamparado, seis anos mais moço e logo passa a chama-lo de "pobre anjo muito triste”. No entanto, a primeira impressão de Chopin não foi favorável, por conta das idéias socialistas e do desafio constante aos padrões da moral vitoriana da época.
Mas, em 1838, o genial musicista acaba sucumbindo à insistência de George Sand, e passam a viver juntos.
Para cuidar melhor da saúde do compositor, dar um tempo na sociedade parisiense que não a aceitava bem e se afastar dos ex-maridos, resolve levá-lo para Maiorca, no litoral da Espanha.
Foi um erro drameatico; a umidade e alimentação precária agravaram o estado de saúde de Chopin.
Pelo aspecto criativo, a estadia acabou sendo proveitosa: Sand escreveu seu livro “Espiridião” e Chopin concluiu seus 24 prelúdios e duas Polonaises.
Voltando a Paris, Sand se torna ainda mais maternal e sufocante e a relação acaba se desgastando.
Em meio a brigas, suspeitas de traições e problemas domésticos envolvendo os filhos da companheira, Chopin põe fim ao casamento, no verão de 1847. O exílio no castelo
Dando continuidade à sua carreira literária, funda um jornal, escreve as “Cartas ao Povo”. Seu lado político se realiza com a queda de Luís Felipe.
Mais tarde, luta pela causa dos proscritos pela Revolução de 1848.
O castelo de Nohant, a dez quilômetros de Chartres, passa a ser sua propriedade em 1821, com a morte da avó. George Sand se instala ali, definitivamente, em 1853. Nohant tem espaço suficiente para receber os amigos :Chopin(que morou sete anos no local), Delacroix ( que ali instalou seu atelier), Balzac, Flaubert, Dumas, Gautier, Baudelaire, Franz Liszt, Elizabeth e Robert Browning, Dostoievski entre tantos outros.
O artista plástico Alexandre Manceau foi seu último companheiro.
Depois de uma vida transgressora e movimentada, George Sand se torna,então, a boa e acolhedora senhora do castelo e sonha com um mundo onde o amor fraterno unisse todas as criaturas e onde não houvessem diferenças sociais.
Apaixonada por teatro de marionettes, escreveu histórias para seus netos. Produziu até o seus útlimos dias : peças de teatro, livros, críticas literárias e uma autobiografia.
Sofrendo de reumatismo, problemas intestinais e fadiga crônica, não conseguia mais suportar as dores.
Morreu em 8 de junho de 1875, sem que os médicos tenham chegado a um diagnóstico.
Nohant hoje
Apesar das transformacões trazidas pelo progresso, o castelo e as terras de George Sand foram tombados e fazem parte do Patrimônio Histórico da França.
A cidade, a região e os habitantes foram cenário para muitas dos romances pastorais desta mulher de vanguarda, que vivenciou seus relacionamentos afetivos com a ótica masculina. E que a todos fascinava pela ousadia e liberdade.
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