quarta-feira, 26 de abril de 2023

Pabllo Vittar. #tbt sempre atual...



Trancrevo aqui a matéria publicada na "Época", em 8/2/2018,

  por LUÍS LIMA E NINA FINCO



Mais de meio bilhão de visualizações no Youtube e mais de 1 bilhão de audições em todas as plataformas digitais com o álbum de estreia. 

A drag queen Pabllo Vittar ostenta números e títulos impressionantes para pouco mais de dois anos de carreira. Mais influente nas redes sociais que RuPaul, a drag mais famosa do mundo, Pabllo não se deslumbra. “RuPaul nasceu numa geração que não tinha streaming, Internet. 

Então, gente, não dá para comparar números”, disse a ÉPOCA. 


A artista recebeu em um hotel do Itaim, bairro nobre da zona oeste de São Paulo, em um raro espaço de tempo de sua frenética agenda pré-Carnaval. Durante os dias de folia, Pabllo terá um bloco para chamar de seu no Carnaval de Salvador, o Bloco da Pabllo, na terça-feira (13) e, um dia antes, será destaque da escola de samba Beija-Flor, no Rio de Janeiro, que terá um enredo contra o preconceito.

Desmontada, reforçou que a ascensão de cantoras drags no pop brasileiro, na esteira de seu sucesso não é algo passageiro. “Não vejo isso como uma ondinha, marolinha, uma moda.” E sentencia: “vocês vão ver a minha carinha por muito tempo”. 

Na entrevista, ela também conta que jamais apresentaria a versão brasileira do reality show RuPaul’s Drag Race e que sente saudade de cantar “Todo Dia”, música que a projetou nacionalmente no Carnaval passado e que é alvo de contestação jurídica por seu autor, o rapper Rico Dallassam. Confira a entrevista.
"Quem tem limite é município e não Pabllo Vittar", diz cantora sobre suas futuras pretensões artísticas  (Foto: Julio Bittencourt )
"Quem tem limite é município e não Pabllo Vittar", diz cantora sobre suas futuras pretensões artísticas (Foto: Julio Bittencourt/ÉPOCA)


ÉPOCA – Acredita que a força das drags na música veio para ficar? 
 

Pabllo Vittar – As pessoas dizem que tudo que começa e faz sucesso é uma febre. Não vejo isso como uma ondinha, marolinha, uma moda. Até porque estamos correndo atrás dos nossos sonhos e direitos. Trabalho todo dia para isso dure e que eu continue vivendo meu sonho. Quero poder continuar a ajudar minha família, a estar perto dos meus amigos, a fazer o que gosto. Trabalho muito. Tenho Deus comigo. É isso, meu amor, vocês vão ver a minha carinha por muito tempo.

ÉPOCA – O seu legado precoce ajuda a abrir caminhos para outras drags, como Aretuza Lovi, Gloria Groove e Lia Clark. Como vê isso?
Pabllo – É bafo. Somos todas drag queens, "fierce" (ou ferozes, em tradução do inglês) e maravilhosas. O bom é que cada uma tem um jeito, um estilo de música e passa uma mensagem de um jeito totalmente diferente, mas com a mesma missão, a mesma vontade.  Acho isso muito incrível. Criamos vários nichos de pessoas que curtem o trabalho drag. Então, manas, arrasem, vocês são demais.


ÉPOCA – Como é a sua relação com as outras drag queens cantoras?
Pabllo –
 Temos uma relação de união e irmandade, uma amizade muito grande. Sempre falo para elas: "manas, somos nós por nós". Eu nunca abriria uma porta que já me foi aberta por outra pessoa para não deixar as minhas manas virem comigo.

 Então eu estou sempre torcendo por elas e estou muito feliz. Algumas vão estar comigo no meu primeiro trio, em Salvador, no circuito Barra-Ondina
 Elas vão cantar e a gente vai se divertir muito. Acho lindo que algumas cabeças estejam se abrindo para essa cultura que é tão linda e só quer pregar amor e respeito.

ÉPOCA – Aqui no Brasil, as drags eram vistas como artistas caricata que batiam cabelo na boate. Agora, estão sendo associadas a divas pop. Como avalia essa guinada?
 

Pabllo – Em partes, mudou mesmo. Muita gente lá atrás fez muita coisa no nicho LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) e não ficou conhecido a nível nacional. Mas foi muito importante para mim como artista. Não tiro o mérito dessas outras pessoas. 
Cada artista é de um jeito. Eu consegui chegar onde outras poucas conseguiram, por conta de uma vontade maior de querer fazer as coisas, de não me acomodar. 
Acho que isso abriu a cabeça das pessoas para os outros artistas que não tinham essa gama de olhares em cima, em volta deles. Eu fico muito feliz porque, agora, quando me perguntam: "quais são suas inspirações?", eu posso responder que me inspiro nos meus próprios amigos, artistas LGBTT que lutam, que levam essa bandeira linda e que fazem um trabalho maravilhoso.

ÉPOCA – Grande parte do consumo de música hoje em dia é por meio de plataformas digitais, um consumo sob demanda. E você tem crescido exponencialmente em todas essas plataformas. Como avalia esse novo jeito de consumo? E quem é o principal público da sua arte?
 


Pabllo – Fico muito louca com essa nova era digital da música. As pessoas têm acesso a tudo. Posso fazer uma música hoje e, em dois dias, ela já pode ser ouvida. Mas é o que sempre falo e falarei: não faço música para nicho. Faço música para pessoas que gostam de música boa. Nos meus shows, eu não categorizo ninguém. Desde sempre, nunca quis ser rotulada. As pessoas que vão ao meu show querem se divertir, dançar, serem respeitadas e amadas. 
Música boa faz isso: união. Existe música. E existem artistas, nós drags. O gênero drag music já foi muito forte. Eu amava, escutava muito quando criança. Hoje, tenho amizade com as meninas que faziam essas músicas, elas vão aos meus shows e acho muito engraçado. Mas quero que as pessoas olhem para nós, drag queens, como artistas.

ÉPOCA – Você incorpora a mensagem do movimento LGBTT em suas músicas e suas parcerias. Pretende continuar disseminando esse discurso?
Pabllo –
 Mana, eu sinto muito, mas sempre teremos que bater nessa tecla. É triste dizer isso. Eu sempre estarei mostrando que, independentemente da sua orientação sexual, você pode fazer tudo o que você quiser. Muitas pessoas não têm compreensão disso. Ainda colocam parentes para fora de casa, batem, xingam. O que eu quero é mostrar que somos todos iguais.


ÉPOCA – Acredita que a percepção do gay brasileiro mudou? Ele passou a olhar para si, e encarnar uma diva em potencial, sem ficar só na fila de shows?
Pabllo – 
Sim. Recebo muitas mensagens de autoaceitação. Acho incrível a pessoa se aceitar. Ao fazer isso, as outras pessoas logo em seguida vão te aceitar, te respeitar, e vão te amar. Assim como eu recebo o carinho de meus fãs. E eles dizem: "pôxa, Pabllo, você me mostrou que eu p >> “Estou 


ÉPOCA – Acha que as drags estão oxigenando o pop brasileiro? Tivemos uma cena forte do sertanejo, do funk...
Pabllo –
 Eu acho que a gente mudou sim. Eu boto muita fé nos meus produtores. No Gorky, no Mafalda, nos meninos que compõem, em todo mundo que trabalha, desde uma afinação, porque eles arrasam muito. E pensam muito em música para ser consumida daqui a 10 anos. 

Que as pessoas possam ouvir, cantar, dançar, se identificar. Temos um prazer muito grande em fazer isso. Acho que, com isso, as pessoas viram uma nova forma de música. Tanto que, depois disso, muitos outros artistas estouraram com os ritmos que trouxemos à tona: o forró, o tecnobrega, o arrocha.
ÉPOCA – O Bloco da Pabllo, trio elétrico que você vai comandar em Salvador, não terá restrição de acesso. De onde partiu essa ideia?
 

Pabllo – Já fiz vários shows em Salvador. Conheço a vivência dos meus fãs, sei como é difícil. Carnaval é uma época em que você quer se divertir, mas não tem muito dinheiro. Então resolvi que não queria bloco com abadá, nada disso. Tem que ser de graça para as manas verem e a gente se respeitar e se amar junto.. No ano passado, eu cantei com Daniela Mercury no mesmo circuito. 
Mas este ano terá um gosto especial, porque é uma responsabilidade muito grande. Estou muito ansiosa. Vitallovers (como Pabllo denomina seus fãs) de Salvador, venham para mim!

ÉPOCA – Você estourou no ano passado com "Todo dia", que foi o hit do Carnaval. Em menos de um ano, a canção foi alvo de contestação jurídica pelo autor, Rico Dalassam, e você foi proibida de cantá-la, devido a uma reivindicação de direitos autoriais. Sente saudade de interpreta-la?
 

Pabllo – Sinto falta, pois é uma música que eu amo muito. Marcou uma parte da minha vida que eu nunca vou esquecer. Realizei vários sonhos com ela. Fico triste, porque gosto muito do Rico, do artista, da pessoa que ele é. Até hoje não entendo o que passa na cabeça dele para tudo isso acontecer. Mas desejo sucesso para ele. E haverá outros hits.

ÉPOCA – Como foi o convite para desfilar pela Beija-Flor de Nilópolis? Qual a importância de um samba enredo que critique o preconceito?
Pabllo –
 Sempre assisti ao Carnaval do Rio de casa – nunca pisei no sambódromo, vai ser a primeira vez! 

Estou muito feliz porque será num carro de destaque com uma temática tão importante – inclusive para o Carnaval, porque nós vemos muitas cenas de homofobia e transfobia nas ruas.
 É muito importante trazer esse tema para o Carnaval para que possamos disseminar essa mensagem todos os dias. Estou com uma fantasia da [estilista] Michelly Xis, que eu amo.

 Vai ser bafo! Muita pele, muito samba. Estou ansiosa. Tenho medo de altura. Talvez não consiga ficar muito no alto [do carro]. Daí, talvez eu vá no chão, dando um close. Mas pela temática, vou tentar ficar lá em cima pendurada!

ÉPOCA – Em termos de representatividade, como avalia a importância de ter gravado dois clipes recentes com homens héteros (Diplo e Lucas Lucco)?
Pabllo –
 [risos] Menina, tinha que ter mais héteros iguais a eles. Quando gravei o clipe com Lucas, eu estava muito receoso. Claro que eu já o conhecia, mas, ainda assim, eu o enxergava como um cantor de sertanejo, do nicho hétero... Pensei: "Cara, como eu vou gravar um clipe com ele, quase sem roupa?". Mas foi supertranquilo, ele me respeitou muito. 

Me deu liberdade para fazermos aquele trabalho lindo que vocês viram. E acho que, em nenhum momento, ele se sentiu menos hétero, ou menos másculo. Inclusive, ele disse que a masculinidade dele ficou até mais revigorada. 
Quando você faz um trabalho desse, nada mais te abala, sexualmente falando. Lucas, meu amor, pisa menos! E o Diplo é um querido, que eu amo muito. Nós temos uma sintonia, que, mana do céu, acho que é de outro mundo. Eu o amo muito e o seu trabalho também, respeito muito. E isso é vice-versa. Arrasamos naquele beijão.

ÉPOCA – Expressões suas como "iukê" e "ressuscita" acabaram virando memes. Acha engraçado?
Pabllo –
 Gente, eu sempre falei "iukê" na vida. Acho muito engraçado. De alguma forma, isso traz a pessoa para perto do artista. Recebo meus memes, dou risada junto. Quando tem festival ou show que vai passar na TV, eu já fico preparada, porque sei que vão fazer um monte [de memes]. Então eu tento não fazer careta, mas nunca dá certo, sempre sai um monte. Mas só tenho a agradecer, porque isso se chama carinho genuíno.


ÉPOCA – Apresentaria a versão brasileira do reality show Ru Paul's Drag Race?
Pabllo – 
Nunca apresentaria. Acho muita responsabilidade. Acho que a RuPaul tem que vir apresentar. RuPaul sem RuPaul não é RuPaul, é outro nome, de outra pessoa. 

Então eu nunca apresentaria. Nunca pegaria essa responsabilidade para mim. Para fazer uma coisa dessas, tinha que colocar alguém que fosse melhor que RuPaul, e isso não existe. Not. Obrigada.

ÉPOCA – Mas, em números, você é muito maior que o Ru Paul nas redes sociais...
Pabllo –
 Sim, mas são números. A RuPaul nasceu numa geração em que não havia streaming, internet. Então, gente, não dá para comparar números. Vamos ser sinceras. Eu já nasci numa geração de streaming, de memes, Twitter, Instagram, Facebook, Orkut. 

Por tudo isso aí, eu passei. Então, não dá para comparar números. Ela é um ícone. Gente, por favor, vamos ver o tanto de coisa que ela já fez, o tanto de coisa que já representou.

ÉPOCA – Uma carreira internacional em 2018 é seu foco?
Pabllo –
 Depois do Carnaval, vou para Los Angeles. Pela primeira vez, estou muito ansiosa, para gravar meu segundo álbum de estúdio. Será todo em português. As "bees" podem ficar tranquilas, porque vai ter muita música babado.


  Tem um projeto com músicas internacionais também , em outras línguas. Mas não é nada do tipo: "vou me jogar na carreira interancional, ui, New York", não. Estamos plantando uma semente de coisas que temos vontade de experimentar mesmo. Porque eu, como músico, gosto de experimentar as coisas. Não vou ficar fechado numa caixinha. Vocês vão ter de sempre me ver fazendo alguma coisa, porque sou muito assim, ligada no 220. Dá na telha, eu vou lá e faço. E vai ter a mesma qualidade da música a que vocês estão acostumados, porque a gente sempre tem essa preocupação. Teremos colaborações ("feat") de pessoas que amo muito, internacionalmente falando. E, ai, meu Deus!  Vai ficar legal! Quem tem limites é município, e não Pabllo Vittar.

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