segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Maud Allan ,a "dançarina de Salomé"

 


Em 1891, o escritor irlandês Oscar Wilde inventou o tema da dança dos sete véus para sua peça Salomé, posteriormente trazida para a música pelo compositor e maestro alemão Richard Strauss (1905)


 Arte,crime, sexo





O texto abaixo, de Linda Rapp,originalmente publicado em enciclopédia lgbtqi +  em 2015, foi traduzido e editado por mim.


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Nos primeiros anos do século XX, Maud Allan alcançou fama mundial como "dançarina de Salomé" por suas impressionantes performances da peça mais conhecida em seu repertório, The Vision of Salome

Ela também é lembrada por uma ação movida contra uma editora de jornais por alegar que era lésbica. 


Embora tenha sido Allan quem acusou a difamação, no tribunal seu oponente tentou colocar em julgamento tanto a atriz quanto a peça de Oscar Wilde, Salomé.

 

PRIMEIROS  ANOS E ESTUDOS


Nascida Beulah Maud Durrant em 1873 em Toronto, filha de William Allan Durrant, um sapateiro, e Isa (também conhecida como Isabella) Matilda Hutchinson Durrant.


 Três anos depois, William Durrant mudou-se para São Francisco, onde pulou de emprego em emprego, principalmente na indústria de calçados. 

Em 1879, Isabella Durrant  ficou sozinhacom seus dois filhos, Maud e o irmão William Henry Theodore ( conhecido como Theo).


Quando jovem, Maud se destacou em artes e ofícios - escultura, modelagem de argila, desenho e costura. 


Também mostrou talento para a música e estudou para ser pianista de concertos

Seu professor, Eugene Bonelli, da Grand Academy of Music de San Francisco, a aconselhou ir para a Alemanha para completar seus estudos musicais.

Em fevereiro de 1895, partiu para Berlim, onde foi admitida na Hochschule für Musik. 

Mal  começou seus estudos,  recebeu a notícia chocante de que seu irmão havia sido preso por assassinato.


 O CRIME 


Em abril, os corpos de duas jovens foram descobertos na Igreja Batista Emmanuel de São Francisco, onde Theo Durrant era o superintendente assistente da Escola Dominical. 

Os terríveis assassinatos, comparados aos crimes de Jack, o Estripador, receberam cobertura sensacionalista  na imprensa da Califórnia. 

Mais de 3.600 jurados em potencial foram examinados antes que doze pudessem ser escolhidos . 

Em 1º de novembro, o júri considerou Durrant culpado de assassinato em primeiro grau. 

Foi condenado à morte em 21 de fevereiro de 1896, mas os recursos do caso fizeram com que a execução fosse adiada três vezes.  


Foi, finalmente,enforcado em 7 de janeiro de 1898.


Durante todo esse período, Maud Allan, a pedido de Theo, permaneceu na Europa. 

Os irmãos, que sempre foram extremamente próximos, mantinham contato frequente por carta. Maud manteve a esperança de um perdão até o fim, e nunca parou de afirmar sua crença na inocência de seu irmão.


Com pouco dinheiro vindo de sua família nos Estados Unidos, precisava trabalhar enquanto estudava. Às vezes dava aulas de inglês, mas ganhava pouco dessa maneira. 


Teve maior sucesso quando se juntou a várias outras pessoas em um negócio de fabricação de espartilhos.


Em uma ocasião, ela usou suas habilidades de desenho, ilustrando um manual de sexo para mulheres, Illustriertes Konversations-Lexikon der Frau (1900).


 CARREIRA NA DANÇA


Embora Allan continuasse seus estudos de piano como sua mãe desejava  um momento crucial aconteceu quando ela conheceu o músico e crítico belga Marcel Rémy, que a incentivou a explorar e desenvolver seus pensamentos sobre dança e que escreveu a música para The Vision of Salome, a peça de performance pela qual seria famosa.

 


Embora o repertório da artista consistisse em grande variedade de peças, incluindo Spring Song de Mendelssohn, Ave Maria de Schubert e Marche funèbre de Chopin, foi The Vision of Salome de Rémy que fez sua reputação e lhe valeu o apelido de "Dançarina de Salomé". 



Sua interpretação da peça foi ainda mais poderosa, porque Rémy a levou a associar a execução de João Batista à de seu próprio irmão, evocando assim uma atuação especialmente apaixonada desse trabalho.

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Em 1910, deixou a Europa e fez extensas turnês por vários anos, apresentando-se na América, África, Ásia e Austrália. 

Em 1915, ela foi para a Califórnia para passar um tempo com os pais. Durante essa estadia, ela atuouem um filme mudo chamado The Rugmaker's Daughter,no papel título.  


  "O CULTO DO CLITÓRIS"


Em 1916,  voltou para a Inglaterra na esperança de reviver a carreira vacilante.


 Em 1918 ,viu- se envolvida em bizarro caso judicial em conexão com sua atuação em uma produção de Salomé ,de Oscar Wilde. 


O caso era um emaranhado de animosidade pessoal e política, bem como homofobia, anti-semitismo e histeria do tempo de guerra.

Allan entrou com uma ação por difamação contra um membro independente do Parlamento, Noel Pemberton Billing. .


Na edição de 26 de janeiro de 1918 do Imperialist, Billing afirmou 

que os alemães tinham um "Livro Negro"contendo os nomes de 

47.000 homens e mulheres britânicos que eram vulneráveis a chantagem ou traíram segredos de estado por causa de suas "peculiaridades sexuais". 


O uso da palavra clitóris foi calculado por Billing   que discutiu várias perversões  em Salomé de Wilde, sugerindo que uma artista disposta a representá-la poderia muito bem praticá-las ela mesma.


Também tentou insinuar que Maud  tinha uma amizade excepcionalmente próxima com Margot Asquith.

 

No último dia do julgamento, Billing  afirmou que nunca havia sugerido que ela era lésbica,apenas que "ela estava cativando aqueles que praticavam vícios artificiais com [seu] desempenho".

Seguindo instruções longas e um tanto confusas do juiz, o júri deliberou por menos de uma hora

e meia antes de retornar um veredicto a favor  do arquivamento do caso.

 

 Após o julgamento, Maud Allan retomou a carreira, mas sua popularidade logo diminuiu.

Por pelo menos dez anos, do final dos anos 1920 a 1938,   Verna

Aldrich, sua secretária se tornou a companheira de vida.

Viveu seus últimos anos na Califórnia. 

Um filme vagamente baseado em sua vida, Salomé, onde dançou,

foi dirigido por Charles Lamont e produzido por Walter Wanger em 1951.

Morreu em 7 de outubro de 1956 com oitenta e quatro anos.



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