Artista e performer que virou ícone da moda, das artes e do comportamento pós-punk
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O corpo flácido passou a ser inspiração para bailarinos, coreógrafos e pintores. Os visuais distorcidos desafiavam o culto à boa imagem do corpo e ao jeito certo de vestir.
Suas atitudes eram sempre o contrário do esperado. Ora aparecia vestindo asas de anjo, ora deixando escorrer cera derretida de velas na cabeça raspada ou, simplesmente, deslizando nu pelo chão. À medida em que a barriga crescia, passava a ocupar maior destaque, como protagnista, em vestidos e expressões corporais.
Leigh Bowery se destacava em meio a nomes poderosos de seus amigos “clubbers” como Vivienne Westwood, Jean Paul Gaultier, John Galliano, Pierre et Gilles, Boy George, Marc Almond, Princess Julia, Rachel Auburn, Nick Knight e muitas outras figuras relevantes da arte contemporânea .
Nasceu em Sunshine, Australia, em 26 de Março de 1961 e depois de passar por diversas escolas, inclusive de Música, matriculou-se no Royal Melbourne Institut of Tecnology, onde se especializou em Design. Presença marcante dos anos 80, designer de moda, ”locomotiva” da noite londrina, proprietário do clube Taboo, artista performático e cantor, criador da banda punk-retrô Minty, modelo do pintor Lucien Freud, Bowery tornou-se uma figura mítica.
Inspirado em uma retórica da decadência e usando o próprio corpo como tela, Leigh parece ter sido uma réplica viva da frase de Oscar Wilde: “fazer de sua vida uma obra de arte”.
Sintonizado com o seu tempo
Atento a qualquer novidade, acompanhava pela mídia o surgimento do movimento punk em Nova York, quando - na casa noturna CBGB - eram acolhidos grupos alternativos como o MC5, o Velvet Underground e o Stooges.
E estava sintonizado com o que acontecia na Inglaterra no início dos 80: uma situação de muita injustiça social com jovens perambulando pelas ruas, sem esperança e sem emprego.
Foi nesse contexto que o punk, antes apenas uma tendência musical, acabou se transformando num movimento de protesto contra a hipocrisia da sociedade e o conservadorismo representado pelas figuras da rainha e da família real.
Em outubro de 1980, mudou-se para Londres para trabalhar como designer de moda. O começo não foi muito glamuroso: seu primeiro emprego foi como caixa da Burger King.
A biógrafa Sue Tilley conta que ele percebeu que estava na hora de pedir demissão quando foi promovido a gerente da loja.
Em 1983, depois de voltar de Nova York - onde participou de uma série de desfiles de que promoviam a moda inglesa - começou a se concentrar em sua própria figura vestindo seus próprios modelo e tendo como palco os clubes noturnos de Londres.
Num desses locais “quentes” conheceu Tony Gordon que, em janeiro de 1984, o convidou para abrir em sociedade, a casa noturna “Taboo”, na Leicester Square.
Proibido proibir
“Taboo é um reflexo de minha moda e de minhas atitudes e deve ser um lugar onde as pessoas se sintam livres, onde podem ser qualquer coisa, com qualquer identidade. Abri o Taboo para me divertir e exprimir minha criatividade”, declarou Bowery numa entrevista.
E assim foi. O clube se tornou famoso pela audácia de seus propósitos e seu dono a figura mais excêntrica e mais polêmica da cena noturna londrina.
Suas produções invertiam os parâmetros de referência do “new romantic” e propunham uma nova estética
para o punk, usando elementos da arte oriental e da optical art dos anos sessenta.
A variedade dos modelos, um diferente a cada noite (alguns contendo elementos do fetiche, hard core e sadomasoquismo) transformou sua presença numa espécie de performance ambulante.
“A Arte Moderna viva”
Interessado na figura não-conformista de Bowery, o enfant terrible do mundo da dança, o bailarino e coreógrafo britânico Michael Clark, o convidou a colaborar como intérprete e responsável pelo vestuário nas montagens de seus ballets de 1984.
Este encontro resultou num longo e produtivo relacionamento. Bowery acabou não só desenhando, mas atuando em muitas dos espetáculos de Clark.
Nestes momento de explosão de criatividade,
Leigh se apresentava com visuais cada vez mais chocantes: mulher pesando centenas de quilos, perucas em forma de vagina, bocas falsas costuradas no rosto.
Prestigiadas galerias, como a de Anthony D’Offay, e centros de Arte Contemporânea como a Serpentine Gallery de Londres foram palco de suas concorridas perfomances, que também aconteciam nas ruas e nos museus.
Na D’Offay exibiu a lendária imagem do rosto pintado de azul, como o Deus Krishna. Sua imagem foi capturada por fotógrafos célebres como Annie Leibovitz e Nick Knight.
Adquiriu ainda mais fama e notoriedade ao posar como modelo para o genial pintor Lucien Freud.
John Galliano, fã assumido, utilizava visual Bowery em muitos espetáculos (e viria a inspirar sua coleção Verão/2003).
Em 1988, descobriu que estava soropositivo, segredo guardado a sete chaves. Continuou a trabalhar normalmente. Em 1993, criou a banda Minty, formada por artistas do underground americano que mostrava seu trabalho em festivais e em galerias de arte.
Embora nunca houvesse escondido sua homossexualidade, seis meses antes de morrer se casou com Nicola Bateman, amiga de toda a vida, namorada e colaboradora. Morreu, em consequência de uma menigite em 31 de Dezembro de 1994.
Bowery no cinema
Bowery conheceu John Maybury e Cerith Van Evans nos anos do Taboo e logo começou a aparecer nos filmes da dupla. Participou também de uma mostra de Arte Alternativa em Piccadilly Circus. Expôs seu corpo gordo e voluptuoso na Tate Gallery.
A arte de Bowery foi comparada à estética cinematográfica dos anos 70 (como em “Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick). O documentário “The Legend Of Leigh Bowery”, de Charles Atlas, vem acompanhado de um pequeno portfólio em vídeo e uma pequena biografia.
Musical na Broadway
A chama do talento de Bowery continua brilhando. O musical da Broadway “Taboo!”,foi baseado na história do clube que mudou a história da música e das artes plásticas. Boy George e Julian Clary, com acesso direto ao espólio do artista, se revezaram no papel de Bowery usando um grande número de vestimentas e acessórios produzidos especialmente para as performances.
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