Em
plena segunda-feira, dia 28 de agosto, o teatro Caixa Cultural em
Brasília ficou lotado devido à uma exibição inédita. Apresentou-se na
18ª edição do festival Cena Contemporânea o monólogo “O Evangelho
Segundo Jesus, Rainha do Céu”, que trouxe em seu enredo uma mulher trans
no papel de Jesus.
O evento inusitado leva a plateia à uma reflexão muito precisa sobre a
segregação sofrida por pessoas trans e travestis, que muitas vezes são
excluídas dos ensinamentos de amor pregados por Jesus. A peça aponta as
discriminações sofridas também por outras minorias com mulheres,
homossexuais e garotas de programa que são abordadas na peça de forma
descontraída, embora a mensagem seja séria.
A atriz Renata Carvalho, que interpretou Jesus no monólogo, é transexual
e militante LGBT.
Renata teve como inspiração as provações e
preconceitos que sofreu durante sua própria vida, podendo assim
externalizar a verdadeira face da violência que acomete esses grupos
sociais, e ainda, as crescentes estatísitcas de violência contra a
população LGBT.
“Ter uma personagem trans interpretada por uma atriz
trans faz diferença sim”, afirmou Renata, que acredita que a ocupação
dos espaços de arte por pessoas trans é um avanço rumo à inclusão
social.
A direção do espetáculo ficou sob a responsabilidade de Natália Mello, e
é a tradução de uma peça da inglesa e também atriz Jo Clifford. A
autora do texto contou, em entrevista para a Uol, em 2015, sobre as
experiências das primeiras apresentações. Segundo Clifford, a ideia de
escrever sobre transexual surgiu nos anos 90, mas ninguém se propôs a
encenar, tanto que não recomendavam suas peças e teve que conseguir
outro emprego para sobreviver. Foi então que em 2009 conseguiu estrear
sua peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, recebendo multidões
de contestadores na porta do teatro, mesmo sem ter assistido à peça.
“Eu não conseguia entender por que os religiosos odeiam tanto os
transexuais, não fazia sentido para mim.”, contou.
Finalizando
o espetáculo, a atriz Renata Carvalho faz uma oração descontraída com o
público, incluindo em suas preces as pessoas marginalizadas e
comparando o discurso bíblico de aceitação com a realidade do tratamento
dispensado a essas pessoas. Provocou na platéia o questionamento de
seus próprios princípios de amor e fraternidade que muitas vezes não
alcançam os excluídos sociais.
A montagem brasileira estreou em 2016 no Festival Internacional de
Londrina, Filo, e causou ameaças de censura e muito confusão mas também
teve seus ingressos esgotados.
Em 2008, a peça "Jesus pra Cristo" causou no Festival de Teatro de
Curitiba, com uma versão de Maria transexual. A peça estrelada por Maitê
Schneider teve direção de Alexandre Linhares, que também escreveu e
atuou como Jesus no espetáculo, que teve produção do jornalista Allan
Johan, que interpretou Deus, em uma versão humanizada.
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