domingo, 29 de janeiro de 2017

Marguerite Yourcenar- 30 anos de morte- Poeta, novelista, dramaturga e tradutora


Primeira mulher eleita para a Academia Francesa


"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele de onde nos vemos sob um ponto de vista inteligente.Minhas primeiras pátrias foram meus livros"
M.Y.


A aristocrática Marguerite Antoinette Jeanne Marie Ghislaine Cleenewerck de Crayencour (seu nome de batismo) nasceu no dia 8 de Junho de 1903 em Bruxelas, filha do francês Michel Cleenewerck de Crayencour, e da belga Fernande Cartier de Marchienne, que morreu onze dias depois do parto.

Foi criada pelo pai que lhe ensinou a discutir literatura e a conversar sobre qualquer assunto. Passou com ele a infância e a juventude viajando pelo mundo, depois da venda de "Mont-Noir", a grande casa ancestral hoje tornada um Museu com seu nome.
A educação não formal foi aprimorarada e enriquecida por viagens muito frequentes.
Começou a estudar latim aos dez anos e grego aos doze. Aprendeu arte visitando museus, ruínas e cidades históricas.
A primeira grande guerra encontrou os Crayencour na Inglaterra, onde Marguerite estudava. Financiada pelo pai publicou seu primeiro livro aos 16 anos.
A obra abordava a história de Ícaro e seu desejo de se aproximar do Sol. Foi também com a ajuda do pai que criou sua griffe literária, YOURCENAR, um anagrama do sobrenome Crayencour. Yourcenar levou a sério, desde muito nova, a sua carreira de escritora.
A primeira novela, "Alexis, ou o Tratado do Combate Estéril"", de 1929, conta as dificuldades de um jovem autor que enfrenta a oposição da família.
"Testemunho do Sonho" (1934),foi inspirado numa das muitas viagens à Itália, país que continuaria a visitar pelo resto da vida. Aos 30 anos apaixonou-se por André Fraineau, da Editora Grasset, que publicava seus livros.
Este envolvente homem era homossexual e fascista e, ao que tudo indica, a relação permaneceu platônica. Fraineau logo se interessou por outro homem. A escritora sublimou a decepção criando "Feux", virulentos poemas em prosa, que descreviam com a dor da paixão não realizada, a saga de grandes mitos como Maria Madalena, Fedra e Antígona.


Grace Frick
Em 1937, Yourcenar conhece Grace Frick, professora universitária americana que permanecerá em sua vida até morrer, em 1979 .
Amigos e biógrafos descrevem esta ligação como uma sociedade em que Grace cuidava de todos os detalhes da vida diária,a ssumindo os papéis de ajudante, secretária e tradutora de seus livros para o inglês.
Abrindo mão da realização pessoal, colaborou para que Marguerite pudesse alcançar seu lugar de honra na História e na Literatura.
Em 1939, viajando para os Estados Unidos para visitar Grace, ali permaneceu exilada, com a eclosão da Segunda Grande Guerra. Marguerite Yourcenar ensinou literatura na Universidade Sarah Lawrence, de 1942 a 1953.
Em 1947 tornou-se cidadã norte-americana e traduziu para o francês obras de Virginia Woolf e Henry James.


"La Petite Plaisance"

No verão de 1942 Marguerite e Grace passaram suas primeiras férias na ilha Mount Desert, na costa do Maine. Encantadas com o local, ali fixaram residência em caráter definitivo (1950).
Na casa onde viveram, chamada pelas duas de " La Petite Plaisance" (pequena diversão), a rotina era discreta, até a morte de Grace em 1979.
Marguerite interrompeu suas viagens para retribuir a devoção, cuidando, com desvelo, da amiga.
Como declarou numa entrevista, embora o tempo tenha apagado os ardores do princípio, permaneceram firmes até o final a cumplicidade e o respeito mútuo.
A vida sem Grace

No dia 22 de janeiro de 1981, Marguerite Yourcenar entou para a Academia Francesa, primeira mulher a fazer parte desta instituição desde sua fundacão em 1635.
Perto dos oitenta anos, apaixonou-se como uma adolescente por um jovem quarenta anos mais novo (escolhido por Grace para dar seguimento ao lugar de secretário e acompanhante), o cineasta americano Jerry Wilson

Marguerite, revivendo o affair mal resolvido que marcou sua juventude,foi feliz durante alguns anos, até que a morte prematura de Jerry , em consequência das complicações da Aids em 1986, deixou a escritora profundamente abalada. Um ano depois Margarite Yourcenar morreu, aos 84 anos.

Memórias de Adriano
Publicado em 1951, "Memórias de Adriano" trouxe a Marguerite Yourcenar reconhecimento unânime do público e da crítica. Ela ganhou o Premio Femina e, por volta de 1989, já haviam sido vendidos mais de um milhão de exemplares.
Elaborado em forma de carta do Imperador Adriano a seu sucessor Marco Aurélio é uma verdadeira pesquisa histórica, repleta de lirismo e erotismo, quando Adriano expressa seu amor pelo jovem grego Antinous.

A história escrita na primeira pessoa, se aproxima muito, em forma/conteúdo, de outra de suas produções: "A obra em negro". onde, contando a história de Zenon, alquimista, médico e filósofo do século XVI, a escritora se mostra perfeitamente antenada com a rebelião estudantil de 1968, na França e o com movimento de contracultura dos anos 60.

Marguerite Yourcenar teve um papel primordial na literatura do século XX.
Sem nunca freqüentar escolas ou universidades acumulou uma cultura sólida, toda construída em torno das viagens, de seus interesses e das pessoas com quem se relacionou.
O seu centenário de nascimento,em 2003, foi comemorado com variado calendário de eventos: publicações, conferências, jornadas de estudos, espetáculos e leituras.
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