sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O Diabo Vestia Farda -2 ( Ou "Ainda bem que os tempos estão mudando")



  Miriam Ben-Shalon



Quase uma década de luta para ter o direito de ser o que é
            
Miriam Ben-Shalon foi a primeira pessoa  recolocada no serviço militar depois de ter sido excluída em função da orientação sexual. Segundo a Suprema Corte Militar dos Estados Unidos, que a inocentou, ela “não teria violado a primeira, a quinta e a nona Emenda da Constituição Americana”, argumento usado para condená-la. 
Embora não tenha conseguido a total reintegração, voltou em 1990 no posto de Sargento e detonando o argumento do exército de que homossexuais não serviam como exemplo de honra e dignidade
 A peregrinação pelos tribunais durou quase uma década. 

Política do “Don’t ask, don’t tell”  
Nascida em Waukesha, Wisconsin em 3/5/1948, dividiu a infância e adolescência entre Big Bend e East Troy, também no Wisconsin. Depois de terminar o 2º grau em 1967, casou-se, teve uma filha e logo se divorciou.

Enquanto durou o casamento, viveu em Israel por 5 anos, fez uma total imersão cultural e civil; tornou-se cidadã e serviu no exército do país. Divorciada, voltou a Wisconsin e completou seus estudos na Universidade Estadual Milwaukee.
Em 1974, começou seu tempo de serviço militar, servindo na 84ª Divisão de Treinamento do Exército, completou um curso para ministrar instrução e tornou-se uma das duas únicas mulheres instrutoras sargentos da Divisão.

Militante de organizações feministas, expôs sua orientação sexual e, ao saber do caso do Sargento Matlovich, que saiu do armário e virou capa do Time, perguntou à sua superiora: “Por que não me mandam embora?” Resposta da Comandante: “Porque você é um bom quadro do exército”
Foi neste momento da vida, ao terminar seu curso de instrutora que , decidiu não mais esconder sua vida pessoal e tentar entender a forma ambígua como a Polícia do Exército tratava gays e lésbicas. 

Era atribuição destes policiais investigar a vida privada dos soldados, sub-oficiais e oficiais e, caso encontrassem alguma irregularidade, recomendar seu afastamento. Existia, entre a comunidade militar, uma orientação no sentido de expor e falar sobre a vida sexual, chamada “não pergunte e não conte (Don't ask, don't tell). 

Em 1993, o Presidente Bill Clinton, cumprindo compromisso de campanha, anulou esta política discriminatória. Ben-Shalom percebeu rapidinho como funcionava a hipocrisia do Comando, que tolerava a vida privada de sua sargenta, mas não se sentia confortável com a a sua divulgação. 
Em 1976, foi oficialmente dispensada do Exército, mas decidiu iniciar um procedimento judicial e pedir a reintegração.

Afastamento  e  reintegração

 O direito à liberdade de expressão foi crucial para o caso Miriam Ben-Shalom.
O afastamento não foi baseado na conduta sexual, mas no fato de ela ser lésbica assumida.
Muito bizarro.Tão bizarro que o próprio Juiz Evans deixou claro que a primeira emenda ( a que rege a liberdade de pensamento) concede a gays e lésbicas o direito de servir à pátria.
O Exército dos Estados Unidos apelou e mesmo com a sentença favorável do Juiz Evans recusou-se a recebê-la em seus quadros. A batalha durou mais de uma década .
Em setembro de 1989, Miriam Ben Shalom foi reintegrada, apesar do parecer contrario do Juiz. Harlington Wood, Jr. Vitória com vida curta. 
Em 2 de fevereiro de 1990, a Suprema Corte se recusou até a tomar depoimento da militar, o que encerrou sua carreira. 
Mas ela se tornou militante das causas dos direitos políticos dos gays e lésbicas e fundou a Associação de Veteranos Gays Lésbicos e Bissexuais. Atualmente, ensina inglês nas escolas públicas de sua cidade natal, Milwaukee, onde trabalha, como voluntária, na recuperação de adolescentes problemáticos. 
Em 11 de junho de 2005, Miriam recebeu o Prêmio Stonewall de Militância.

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