JM em 2023 |
Último de uma linhagem de tradicionais vocalistas norte-americanos, Johhny Mathis, o do “certo sorriso” (um de seus grandes sucessos) e quase atleta olímpico aos 21 anos, precisou escolher entre a música e o esporte.
Ficou inacreditáveis 490 semanas – nove anos e meio - no topo da lista de hits do Billboard, o que lhe valeu a inclusão no Livro Guiness de Recordes..
A notoriedade cobrou seu preço ao cantor da voz gostosa de se ouvir e considerado um dos seres humanos mais gentis do meio artístico,
segundo todos os que o conhecem.
Passou por ascensões e declínios, glórias e decadências.
A roda gigante artística, com a respectiva oscilação emocional, veio na esteira de pílulas para acordar e para dormir, em moda na década de 60.
Elas, que ajudaram a cumprir uma agenda de 101 noites seguidas de show, causaram dependência química severa. Levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima ajudado pelos ares amorosos, no Brasil.
Em 1982, numa entrevista para o US Magazine, assumiu sua homossexualidade - o que rendeu outro baque na carreira.
Agora, livre do odor de mofo do armário, voa, novamente, em velocidade de cruzeiro.
Os 68 anos de carreira foram marcados pelo álbum “A Night To Remember”, selo Columbia, com clássicos como Where Is The Love; The Closer I Get To Yo; You make me feel brandnew, etc.
Decidiu, também, alterar o ritmo: depois dos setenta anos não faria mais sessenta shows por ano. Os fãs não permitiram : as agendas estão sempre lotadas.
O atleta da voz de veludo
John Royce Mathis nasceu em 30 de setembro de 1935 em Gilmer, Texas e cresceu em San Francisco. Clem, o pai, era motorista de limousines e a mãe, Mildred, empregada doméstica.
Ambos muito sensíveis, perceberam a habilidade musical que o 4º de seus sete filhos mostrava, desde a mais tenra idade.
Aos oito anos, ganhou do pai um piano usado.
Clem Mathis tinha sido um ator de vaudeville no Texas e, além de ensinar ao filho alguns sucessos de Lena Horne e Ella Fitzgerald, o incentivou a participar no coro da igreja que freqüentava e a participar de concursos de calouros.
Aos 13 anos, Connie Cox, cantora de ópera, ficou tão encantada com o timbre do menino que se dispôs a dar aulas grátis de colocação de voz.
Johnny estudou as técnicas clássicas por seis anos e credita ao aprendizado com a mestra o tom suave com domínio das notas altas, que é sua marca registrada.
Na George Washington High School, ficou conhecido como misto de excelente cantor e grande atleta.
Recebeu uma bolsa do San Francisco State College para estudar Educação Física.
Ali, em excepcional desempenho nas competições de salto em altura, quebrou recordes históricos e foi classificado para participar das Olimpíadas de 1956 em Melbourne, Austrália.
Mas, na mesma semana, apareceu a oportunidade de gravar um disco demo e ele não pensou duas vezes : optou pela música.
Continua ligado no esporte.
Desde 1982, patrocina anualmente o evento “Johnny Mathis Track and Field Invitational” para várias categorias do Atletismo, no campus da sua antiga universidade.
Co-patrocina, também, um torneio de golfe : “The Shell / Johnny Mathis Golf Classic”, em Belfast, Irlanda do Norte, onde toda a renda vai para um programa de reabilitação para doentes de distrofia muscular.
Carreira artística com fibra de atleta
Em 1955, cantando num bar gay chamado 440 Club, Mathis conheceu George Avakian, executivo da Columbia em férias em San Francisco que, da platéia, admirou a potência de sua voz.
Um ano depois, voltando à cidade, trouxe pronta a minuta de contrato para gravar um album : Johnny Mathis, a New Sound in Popular Song (1956) que não foi lá essas coisas em termos de sucesso, pois era futurista demais para a época - continha aroma de jazz.
A gravadora o enviou a Nova York, onde continuou a aperfeiçoar seu estilo muito pessoal. Como cantor de jazz trabalhou em clubes e teatros, inclusive no Apollo Theater.
Avakian, como empresário, seguiu uma outra rota, em busca de sucesso comercial - colocou Mitch Mille como produtor e arranjador. Bingo! Baladas românticas foram a solução.
"Wonderful, Wonderful"; "Chances Are"; "The Twelfth of Never"; "It's Not for Me to Say" e "Misty.” eram algumas das canções do álbum, Johnny's Greatest Hits, que ficou 490 semanas nas paradas de sucesso.
Cento e uma noites consecutivas de shows, em turnês-relâmpago, derrubaram antigo o campeão de atletismo, que se tornou - durante algum tempo - adicto de soníferos e antidepressivos.
Em 1964, fundou sua própria empresa - Rojon Productions.
Gravou álbuns como The Long and Winding Road (1970), cantando sucessos de outros artistas e disco music. Os duetos com Natalie Cole, Dione Warwick e com Deniece Williams, especialmente "Too Much, Too Little, Too Late” fizeram com que o público básico de de Mathis - maioria de brancos e adultos - fosse, aos poucos, sendo acrescentado de jovens afro-americanos.
Sopro de ar puro.
Um crítico da People Magazine escreveu, brincando, que Johhny foi um dos maiores responsáveis pelo baby boom das últimas décadas do século passado, com as canções açucaradas atraindo casais.
E que os gays - que tinham sacado o lance muito antes - também se juntavam sob as bênçãos da música.
Em 1982, numa entrevista ao People Magazine, saiu do armário, contou sobre seu primeiro namorado de juventude, aos 16 anos e declarou que “ser gay foi uma coisa natural”, que cresceu junto com ele.
Foi uma bomba entre os mais conservadores e recebeu duas ameaças sérias de morte.
Johnny passou a ser considerado um entrevistado “difícil”, quando se trata de vida pessoal, mas não é.
Apenas se limita a promover seus shows, eventos e novos trabalhos.
No Rio de Janeiro
Nos momentos em que foi preciso um distanciamento, o cantor encontrou um porto seguro na Cidade Maravilhosa, onde aqueceu (com amor) o coração machucado.
Começou a vir com freqüência cada vez maior e não se importava se o cachê era praticamente ínfimo.
Com a mesma dignidade, cantou na Casa Branca para Presidentes, para a Família Real inglesa, shows na Broadway, no Olympia, e - por que não dizer?- no Cassino Bangu e em churrascarias nesse e em outros subúrbios do Rio,entre fatias de picanha e costelinhas suínas.
Todas as platéias igualmente inebriadas pelo carisma e voz dulcíssima.
.A partir daí, sempre inclui um medley de música brasileira em suas apresentações.
Até hoje, 130 albuns e mais de 180 milhões de cópias(do vinil ao mp3 e ao Spotify), o perpetuam como o terceiro cantor americano que mais vende, depois de Frank Sinatra e Elvis Presley.
Em 2003, recebeu o prêmio especial da Academy of Recording Arts and Sciences pelo conjunto da obra e somente concedido a artistas que se destacam intensamente no campo da música popular.
Também faz parte do Grammy Hall of Fame, um Grammy especial,para artistas que, em pelo menos 25 anos de carreira, tenham oferecido históricas e qualitativas contribuições ao mundo da arte.
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Evie. 1971
https://www.youtube.com/watch?v=3mF12hxoET0
Misty.
https://www.youtube.com/watch?v=SSUsNHi0Lho
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#johnny mathis.
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