E quando decidiu finalmente se transformar?
Fui
então promovida e, alguns meses depois, houve uma palestra sobre
diversidade na empresa.
Vi uma palestra do Ramon Jubels, que é
sócio-líder do pilar Voices do Comitê de Inclusão e Diversidade da KPMG
no Brasil.
Ele é homossexual e contou um pouco sobre como foi o processo
dele [de se assumir profissionalmente].
A essa altura, eu já tinha
certeza de quem eu era. Falei: "Bom, tenho duas opções: ou escondo isso e
vivo assim só aos finais de semana --o que não ia dar, porque já estava
num ponto em que eu mesma utilizava pronomes femininos para me referir a
mim --ou vou ter que encarar a consequência que for.
E decidi seguir
por esse caminho. Mas as alterações físicas só começaram a acontecer
algum tempo depois.
O processo todo durou mais de cinco anos. Nas minhas
primeiras fotos já assumida, apareço com uma barba enorme. Ninguém
entendia nada. As pessoas me perguntavam: "Mas como assim? Você se
assumiu trans e tem essa barba enorme?".
Mas eu decidi que ia por
partes. Eu sou trans, agora vou ver até onde eu vou assimilar o meu
próprio corpo.
E como a empresa reagiu?
Tive
muita preocupação se eu receberia respaldo. Mas soube que a KPMG estava
assinando o pacto do fórum das empresas que apoiam os direitos LGBT, o
que me deu tranquilidade.
Vi que o assunto estava sendo discutido em um
nível muito alto, que não era algo que eu ia fazer de forma isolada.
Depois, formou-se o comitê de diversidade da KPMG.
A empresa me deu todo
o apoio, distribuiu comunicados internos dizendo que havia uma pessoa
--não me identificaram-- que estava realizando uma transição de gênero
.
E aí foi estabelecida a regra do jogo interno, que funcionou muito bem:
"Na dúvida, pergunte. Continuou na dúvida, respeite".
Nunca pedi
benefícios, sempre fui uma profissional de altíssima performance e
continuei sendo.
Mas sabia que ia precisar de apoio para realizar o meu
ciclo. Tive a oportunidade de fazer algumas palestras e de me
apresentar.
As pessoas me perguntavam muito sobre aparência, mas eu
dizia que isso não era o principal. Meu objetivo não era ser reconhecida
como uma mulher transgênero, mas me olhar no espelho e me reconhecer.
Depois que me assumi, procurei ao máximo me concentrar no trabalho, pois
sabia que ele seria o meu grande alicerce.
Me
candidatei para uma vaga em Londres, passei, e foi muito bom para a
minha transição. Até que chegou o momento em que eu enfim comecei a
aparar a barba e mudar as roupas. Era engraçado, porque o pessoal foi
acompanhando tudo isso ao vivo.
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