Antigo jogador do Esmoriz mudou de sexo e passou a competir na liga feminina, mas a sua alegada vantagem física causa polêmica
Rodrigo
Pereira de Abreu, atacante/oposto que passou pela equipe masculina do
Esmoriz em 2008-09, transformou-se em Tiffany, a jogadora transexual que
está agitando a liga italiana de voleibol feminino.
Após ter concluído
no ano passado o processo de mudança de sexo, a atleta estreou no
domingo pelo Golem Palmi da Série A2 (segunda divisão) transalpina.
Mas
há quem questione a sua legitimidade para competir entre as mulheres.
O
caso não é inédito - a pioneira foi, em 2016, Alessia Ameri, nascida
Alessio mas com a síndrome de Morris, que limita ou inibe o
desenvolvimento de características masculinas.
No entanto, é
emblemático: são raros os casos de atletas ou ex--desportistas que
mudaram de sexo, como fizeram Caitlyn/Bruce Jenner (ouro olímpico de
decatlo em 1976), Andreas/Heidi Krieger (campeã europeia de lançamento
do peso em 1986) e Philippa York/Robert Millar (figura de topo do
ciclismo nos anos 80).
E são ainda mais incomuns os episódios de
transexuais que competem pelo novo género após a mudança de sexo - como
a tenista Renée Richards (nascida Richard Raskin) nos anos 70 do século
passado.
Rodrigo/Tiffany, brasileira
de 32 anos, sempre jogou em campeonatos masculinos - com passagem, além
da liga portuguesa, por Indonésia, Espanha, França, Holanda e Bélgica.
Até que, após ter completado a mudança de sexo quando representava o JTV
Dero Zele-Berlare (da segunda liga belga), recebeu permissão da
Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para competir em provas
femininas. A estreia pelo Golem Palmi foi no domingo, contra o Delta
Informatica Trentino.
Tiffany Pereira
de Abreu teve impacto imediato: entrou em campo após a equipe ter
perdido o primeiro set e, com 28 pontos, comandou a reviravolta (3-1),
sendo eleita a MVP da partida. "Fui muito bem recebida no grupo. As
meninas têm--me tratado como uma irmã. O nível aqui na Itália é muito
alto e eu tenho de treinar duro para estar à altura. Os treinadores são
muito bem preparados: têm uma cultura de trabalho duro e transmitem-nos a
vontade de corresponder", sublinhou a jogadora.
No
entanto, uma estreia tão estrondosa veio alimentar a polémica sobre a
vantagem que uma atleta transexual como Tiffany - que mede 1,98 metros -
pode ou não ter numa competição feminina (onde a rede está a 2,24
metros de altura, menos 19 centímetros do que nas provas masculinas).
"Tivemos dois jogos diferentes: um até ela entrar, outro depois. A nível
pessoal, ela tem todo o meu respeito por tudo o que passou. Mas, a
nível desportivo, os seus parâmetros físicos não são os mesmos de uma
mulher.
No ano passado tive a sorte de competir na A1 [o primeiro
escalão transalpino] e nem lá se veem muitas jogadoras que consigam
jogar à sua altura e com um ataque tão forte", apontou a capitã do
Trentino, Sílvia Fondriest.
"Ninguém
fez algo de irregular, isso é claro. Mas esta situação devia ser
regulamentada, para resolver casos futuros", frisou também o técnico da
equipe derrotada, Ivan Iosi.
E o presidente da liga feminina, Mauro
Fabris, prometeu tomar medidas. "Com o máximo respeito pela pessoa em
causa, já questionei formalmente o CONI [Comité Olímpico Nacional
Italiano] e a federação sobre este assunto. Temos de saber o que fazer
se estes casos se multiplicarem", explicou.
O
treinador do Palmi, Pasqualino Giangrossi, saiu em defesa da sua
atleta: "Quando nos ofereceram a jogadora não nos falaram do seu passado
como homem. Escolhi-a pelas suas qualidades e aceitei-a como mulher.
Para mim é apenas uma pessoa que joga bem voleibol." E garantiu que
Tiffany não parte em vantagem em relação às adversárias.
"Com a
transformação perdeu 60% da sua força, antes saltava até 3,60 metros,
agora apenas 3,15", esclareceu.
No
entanto, a polémica promete continuar. "Espero que as reclamações [dos
adversários] deem em nada. As regras dizem que ela legalmente é uma
mulher e é elegível. Uma mudança de sexo não é um passeio. A Tiffany
contou-me o quanto sofreu. Quem a ataca é um hipócrita", concluiu o
treinador do Golem Palmi."
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