domingo, 18 de setembro de 2016

Morre Edward Albee - autor de "Quem tem medo de Virginia Woolf"

 

 



“Não estou chateado com a idade, continuo tendo idéias. A mente criativa não entra em colapso.Talvez me preocupe quando chegar aos 90. Enquanto isso, me cuido e não cultivo entusiasmo pela morte. Acho uma tremenda perda de tempos e não quero participar”, declarou Edward Albee ao The New York Times, falando sobre seu 80º aniversário, em 12 de março de 2009.

Ilustre representante da geração dos gigantes dos anos 50/60, foi considerado por algum tempo sucessor de Eugene O'Neill, Arthur Miller e Tennessee Williams na história do teatro tradicional americano e no chamado “teatro gay”. Seria a versão americanizada do Teatro do Absurdo Europeu, de Jean Genet, Samuel Beckett e Eugène Ionesco.
Fez sucesso no circuito off Broadway com as peças em um ato “The Zoo History” , “The American Dream” e “A morte de Bessie Smith”. Adaptou originais de contos e novelas de Carson McCullers: The Ballad of the Sad Cafe [1964) e James Purdy Malcolm (1966).
Foi então que se sentiu preparado para escrever “Quem tem medo de Virgínia Woolf”, de 3 horas e meia de duração, assegurando um lugar cativo na história da dramaturgia moderna
A peça, transformada em filme, ganhou quase todos os Oscars de 1966, dando outra estatueta a Elizabeth Taylor. Em 2005, foi produzida uma nova versão que lotou os teatros, em Nova York.


Pobre menino rico 
 

A biografia de Albee parece um roteiro de teatro do absurdo. De acordo com o Survey of American Literature Vol. 1 (2007,Magill Magazine) o nascimento foi em algum lugar do estado da Virginia, ao contrario da versão oficial de que teria nascido em Washington,DC. Adotado com duas semanas de vida, foi levado para o Condado de Westchester,NY ,onde recebeu o nome de Edward Franklin Albee III.
 

Os pais adotivos foram Reed A. Albee e sua terceira esposa, Frances. O avô paterno adotivo era o magnata do vaudeville Edward Franklin Albee II, dono de uma cadeia de salas, onde o menino cresceu e ganhou familiaridade com o meio teatral.

Ainda pré adolescente, foi mandado para a Hye Country Day School, de onde foi expulso,E começou a peregrinaçao: Academia Militar Wayne, Pennsylvania onde ficou até 1945; Choate Rosemary Hall Trinity College em Hartford, Connecticutt, de onde foi, igualmente, convidado a se retirar.
 

A rebeldia foi explicada em entrevista recente:
”Eles não eram bons pais, eu não era um bom filho, me mandaram cedo para fora de casa porque, assim, poderiam se livrar de mim. Os filhos adotados não possuem comprometimento genético com quem os adotou.”
 

(Esse raciocínio meio simplista me levou à teoria do QI hereditário. Lévi-Strauss deve ter dado saltos no túmulo).
 

Foram os teatros universitários os primeiros  que acolheram suas peças. Albee freqüentou cada campus disponível e foi um professor dedicado e muito querido na Universidade de Husston, entre 1989 e 2003. 

Ganhos e Perdas 

Albee foi ganhador de três Prêmios Pulitzer (1967,1975,1994) , da Medalha de Ouro do Drama, concedida pelo Instituto Americano de Artes e Letras (1980), do Kennedy Centre Honors e da Medalha Nacional das Artes, ambos em 1996, e de um Tony Award pelo conjunto de obra, em 2005.
É presidente da Edward F. Albee Foundation, que mantém o Centro William Flanagan para Pessoas Criativas, uma aldeia de escritores e artistas plásticos em Montauk, estado de New York.

Em 2008, celebrando os 80 anos, foram programadas encenações de suas peças durante toda a temporada em salas “off” e “in Broadway” inclusive no histórico Cherry Lane Theatre, onde o autor  dirigiu dois de seus trabalhos em um ato : The American Dream and The Sandbox, que foram montados no mesmo teatro em 1961 e 1962, respectivamente.
 

Me, Myself And I ( peça sobre gêmeos idênticos e a mãe que não consegue dar conta da dupla) foi encenada no McCarter Theatre em Princeton, New Jersey,entre janeiro e fevereiro últimos.
 

E também faz parte da "Albee Season", incluindo a remontagem de The Sandbox e The American Dream.
 

O 12 de março de 2008 foi festejado como “Edward Albee Day” por decreto do Prefeito de Nova York Michael Bloomberg, com um evento de gala onde o autor rrecebeu uma placa em homenagem à contribuição cultural, ao teatro e em agradecimento pelo trabalho filantrópico da Fundação que leva seu nome.


O achado do título-"Quem tem medo de Virginia Woolf?"

Edward Albee escrevia uma peça sobre os conflitos de um casal (George, professor universitário e Martha, a filha do reitor ). Vivendo uma relação destrutiva de amor e ódio, começa a se desenvolver uma batalha verbal sado masoquista. George e Martha aguardam a a visita de um casal mais jovem - Nick, um professor de biologia e sua mimada esposa Honey - a pedido do Reitor.
 

A chegada dos convidados envolve os quatro personagens num clima hostil.
Os casamentos mentirosos, fatos obscuros e o suplício de levar relações adiante quando já estão degeneradas levam a um clima intolerável de violência.

Um dia, sentado num bar, Albee se deparou com um espelho onde havia a inscrição “Who’s afraid of Virginia Woolf?” - trocadilho com a canção da históoria dos 3 porquinhos e do LoboMau (Who’s afraid of the big bad wolf”?)
Um tinha casa de palha, outro de madeira e o terceiro construiu a casa de tijolos que sobreviveu aos sopros do Lobo Mau.
Albee fez logo a ligação entre o clima da peça e a metáfora das casas destruídas pela fragilidade dos materiais. 


Ao constatar que os direitos autorais de Walt Disney ficariam caríssimos, resolveu aproveitar o jogo de palavras.
A escritora inglesa Virgínia Woolf era bissexual, bipolar, cometeu suicídio e vivia num clima de inferno astral constante.
A brincadeira intelectual, escrita no espelho, resolveu o final da peça: George canta "who's afraid of Virginia Woolf?" e Martha responde "I am, George... I am". 
Edward Albee declarou que as idéias lhe chegam à mente sem nenhum esforço. Basta sentar e começar a escrever (ou teclar) e que as pessoas criativas possuem esta capacidade. 

Ele achava, inclusive, que todos nós, humanos, somos criativos.
Que algumas pessoas fazem sucesso, outras não.

Mas qualquer texto é muito especial para qualquer autor. E muito individual também.
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